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"Trechos do livro: Cristo de Pietro Ubaldi"

Todos os fatos se correlacionam entre si, reconduzidos pela Lei à unidade, de tal forma que se nos apresentam cada um como uma ramificação do mesmo tronco unitário. (P. Ubaldi - Cristo)

Não nos damos ainda conta de que o universo é um organismo funcionante, segundo regras pré-estabelecidas e que nada pode nele deslocar-se sem que isso traga conseqüências inevitáveis? (P. Ubaldi - Cristo )

A presença do ideal num ambiente que lhe é adverso explica-se pelo fato de representar uma meta já a caminho de sua realização. (P. Ubaldi - Cristo)

Uma idéia antes de poder atingir a fase de sua atuação, e como se chega a fase final por evolução, através de um lento amadurecimento. (P. Ubaldi - Cristo ) A moral é relativa e os juizes estão em relação ao nível moral alcançado. (P. Ubaldi - Cristo)

O método de vida baseado no princípio da não resistência, como o aconselhado pelo Evangelho, investe pois, em profundidade, as leis biológicas, devido ao fato de colocar-se nitidamente em antítese à conhecida lei fundamental da luta pela seleção. Observemos agora aquele princípio evangélico sob este aspecto. O nosso mundo é dualista, por não representar senão um aspecto do dualismo universal, cujos fatores componentes — um positivo e o outro negativo — correspondem ao macho e à fêmea no plano biológico, sendo o primeiro de tipo ativo, capaz de iniciativas, inovador, e o segundo, passivo, receptivo, conservador. Um exemplo concreto pode ser visto tanto no comportamento de dois termos opostos e complementares, quais o espermatozóide e o óvulo-celular, como na luta do macho para eliminar o outro macho, elementos do mesmo signo. Este conduz a dois diversos métodos de vida Um utiliza uma técnica de tipo masculino, positivo, outro utiliza uma técnica de tipo feminino, negativo. Não é que uma seja melhor e mais justa do que a outra. Trata-se só de dois aspectos do mesmo princípio dividido em duas formas opostas e complementares, feitas para compensar-se reciprocamente ao acoplarem-se, reconstruindo a unidade. Ambas se propõem ao mesmo fim: a defesa da vida. Pois bem, propõe-se o Cristo a regular com normas morais a técnica do tipo masculino, deixando na sombra a do outro tipo. Explica-se esta preferência pelo fato de — até ontem — ter sido o macho, na raça humana, o seu protagonista, iniciador e diretor, enquanto a mulher era a sua cópia, sua seguidora, em tudo a ele submissa. Isto era verdadeiro sobretudo nos tempos de Cristo, quando a mulher era um objeto de posse do macho, e como tal, destituída de qualquer direito para que pudesse ser tomada em consideração. (....) Ora, acontece que o Evangelho atual é apresentado como unidade de medida para todos, isto é, para ambos os tipos, mesmo que ele seja feito só para um. Segue-se disso que o tipo feminino não se encontra aí, fustigado nos seus defeitos, que são diversos em relação aos do macho, os únicos — no mesmo — alvejados. (P. Ubaldi - Cristo)

A vida com um lento trabalho de erosão elimina a injustiça. (P. Ubaldi - Cristo)

A necessidade aguça a inteligência e esgota a paciência. O resultado é que a riqueza passa do rico ao pobre que o suplanta. (P. Ubaldi - Cristo)

Como a vida faz para conseguir as suas finalidades? Enquanto a riqueza corresponde à realização de um esforço, ela é biologicamente justa e a vida a respeita. Mas surge, depois a injustiça, quando as conquistas são legalizadas convertendo-se em privilégios permanentes. Assim apesar do homem ter procurado tornar hereditárias as posições alcançadas verifica-se que nenhuma delas é eterna. Inútil protegê-lo com leis. (P. Ubaldi - Cristo).

Vejamos dois casos típicos desta coincidência de opostos, em que cada um cumpre a sua parte: a do homem do Céu no seu âmbito espiritual e a do homem do mundo no seu plano material. Ambos são necessários para realizar a descida dos ideais na Terra, fenômeno fundamental para os fins da evolução. Se o apóstolo Paulo não tivesse operado a propagação do Evangelho e se a Igreja não se organizasse política e economicamente em função da construção terrena do ideal cristão, a doutrina de Cristo teria corrido o risco de ficar desconhecida na Palestina. Analogamente, se São Francisco não tivesse tido em frei Elias um homem prático, construtor de basílicas e conventos, sua memória dificilmente teria transposto o âmbito restrito das lendárias crônicas campesinas da Úmbria. Assim colaboraram S. Francisco e Frei Elias, apesar deste, devido à natureza material de seu trabalho ter julgado S. Francisco apenas um visionário, o que levou os fiéis aos ideais da pobreza (como Frei Leão) a julgarem Elias como um traidor. Eis que a própria vida realiza seus fins mediante a junção de dois fatores complementares: o instaurador do ideal e seu prático realizador. Sem esta união integrante, o primeiro, sozinho, dificilmente fixaria na Terra suas sublimes visões do mundo celeste, enquanto faltaria ao segundo a ideia fulgurante sobre a qual construir. Eles colaboram, sendo os dois necessários, porque se enquadram ambos nos superiores desígnios da Lei da evolução. Assim, o tipo idealizador e o tipo realizador vivem uma vida completamente diferente. Cada um segue aqueles que para ele são os maiores valores, deixando os outros de lado. Há quem esqueça sua alma dominada pela preocupação de enriquecer e quem afaste a riqueza como um obstáculo à ascensão. Para eles os pontos de referência e os objetivos da vida são completamente diversos. Embora em posições aparentemente divergentes, os opostos se integram convergindo para o mesmo fim, porque no fundo são ambos complementares, um no mais restrito âmbito terreno, o outro na mais ampla economia da esfera celeste. E ambos são úteis porque cada um no seu nível e no seu específico campo de ação, permitem que o trabalho da evolução se realize. (P. Ubaldi - Cristo)

A conclusão é que uma riqueza alcançada por caminhos escusos esta inquinada de negativismo e é, por isso, perniciosa para quem a possui, sendo portanto conveniente que se liberte dela. Compreende-se então que em certos casos ser rico pode significar um débito a pagar, enquanto ser pobre pode constituir uma posição bem melhor, porque isenta de tal condenação. Poder-se-á então estabelecer — a guisa de exemplo — a seguinte contagem: se eu possuo 10 unidades de valores econômicos mais 10 unidades de valores morais ao positivo (isto é, de mais retidão) será como se eu tivesse 20 unidades de valores positivos a meu favor. Se, pelo contrario, eu possuo 10 unidades de valores econômicos mais 10 unidades de valores morais ao negativo (isto é de menos retidão) será como se eu possuísse 20 unidades de valores negativos em meu prejuízo e zero unidades em minha vantagem, isto é, sou mísero e endividado. Se, pelo contrario, eu possuo 10 unidades de valores econômicos mais 100 unidades de valores morais ao negativo (isto é, de menos retidão) será como se tivesse 110 unidades de valores negativos em meu prejuízo, ou seja, é como se possuísse um montão de débitos a pagar. Eis que no campo econômico o fator moral pode tomar a dianteira e assumir uma função decisiva, porque é ele que confere à coisa possuída o seu caráter benéfico ou maléfico, de positividade ou negatividade. Então para saber o real valor de um capital, é necessário calcular o grau de positividade (mais retidão) ou de negatividade (menos retidão) que ele possui. Segue-se disso que um pequeno capital honestamente ganho pode valer bem mais que um grande capital mal ganho, que pode representar uma verdadeira desgraça para quem o possui. (P. Ubaldi - Cristo)

Para poder reger tudo com uma tal ordem, a Lei deve ser matematicamente justa. Isto não impede que exista também o Amor, mas este não pode violar a ordem e emborcar a justiça, porque isso geraria o caos e a injustiça, o que é anti-Lei! (P. Ubaldi - Cristo)

Eis que a pobreza pode embrutecer até o espírito. Conforme as leis biológicas a pobreza não é uma virtude, mas um defeito, o estado atrasado e doentio de uma coletividade que não soube vencê-la. Esta é a realidade que a vida contrapõe ao ideal. A pobreza é miséria que conduz para baixo, enquanto a riqueza pode ser base de civilização. (P. Ubaldi - Cristo)

Hoje a pobreza não é mais um fato particular, mas um mal social que toca a todos, um mal da coletividade, merecedor de sérios cuidados. Não é possível ser individualmente rico num país de pobres. Logo, a pobreza, hoje, é um defeito dos povos e não uma virtude, senão indispensável que se lute para eliminar este defeito. Ora, em vez de consolações de além-túmulo e vãs esmolas ou semelhantes anestésicos, hoje se organizam as massas educando-as ao trabalho produtivo que lhes proporciona a independência econômica e as torna auto-suficientes por elevar seu nível de vida ou, quando isso não seja possível, recorrendo ao meio extremo da esterilização ou pelo menos do controle da natalidade, para que a lepra da miséria não prolifere expandindo-se sem fim. (P. Ubaldi - Cristo)

Tal homem julgava que tudo tivesse sido criado - plantas, animais e até as estrelas - somente a serviço dele; os primeiros para alimentá-lo e as segundas para alegrar-lhe a vista. Se as galinhas tivessem sido mais fortes a ponto de subjugar o homem, elas teriam acreditado que Deus tivesse criado o homem para servir-lhes de alimento. (P. Ubaldi - Cristo)

A redenção não é instantânea, súbita, global, genérica e indiscriminada, mas gradual, parcial, específica e analítica. Este é o seu método. Antes de mais nada, a lei não nos faz teorias, nem se perde em dissertações para explicar-nos a sua técnica operativa. Ela se exprime com fatos e nos corrige bloqueando-nos e golpeando-nos no ponto fraco. (P. Ubaldi - Cristo)

É necessário que os dirigentes estejam atentos a não propor verdades antes que as massas as possam compreender (P. Ubaldi - Cristo)

Para ter direitos é necessário ter conquistado o direito de ter direitos. (P. Ubaldi - Cristo)

Cristo era verdadeiramente o Filho de Deus, porque como elemento do Sistema tinha sido gerado por Deus, a ponto de poder, agora, reentrar no Sistema; ele era Homem-Deus; Homem, porque emergia do Anti-Sistema, e Deus porque reingressava no Sistema. Na sua vida terrena Cristo encontrava-se no momento da passagem do estado humano para o divino. Por isso Ele podia possuir tanto as qualidades de homem como as de Deus. Assim concebida, esta Sua dupla natureza é fato logicamente compreensível e não uma suposição aceitável apenas por um ato de fé. Aquela vida humana de Cristo foi a Sua última na dimensão Anti-Sistema, isto é, do tipo de vida decomposta no dualismo positivo-negativo, vida-morte, modelo vigorante nesse mesmo Anti-Sistema. No Sistema esta cisão dualística é superada e sanada num tipo de vida unitária, que não conhece mais a morte. (P. Ubaldi - Cristo)

Eis que o Evangelho aplicado em nosso mundo pode resultar contraproducente, porque a privação em vez de produzir o desprendimento pode produzir um apego ao dinheiro. É na pobreza e não na riqueza que se aprende quanto custa consegui-lo. Do mesmo modo sucede com o jejum e com a castidade. São os esfomeados que pensam sempre em comer; é a abstinência forçada que faz pensar sempre no sexo. Assim, se o rico segue o Evangelho e dá tudo aos pobres, ele passa da abundância à necessidade, isto é, do desprendimento ao apego. O rico pode ter tempo e energias para dedicar-se às coisas do espirito, não o pobre que está preso à preocupação avassaladora de se procurar os meios para viver. A verdadeira pobreza a indigência — é um degradante rebaixamento ao nível de vida animal que pode levar a um retrocesso involutivo e paralisar o desenvolvimento da civilização. A verdadeira pobreza é abjeção em ambientes malsãos, é miséria também espiritual, é, antes de mais nada, negatividade destrutiva das construções da vida em nível mais alto, as quais são as primeiras a desmoronar.(P. Ubaldi - Cristo)

Ora, o escopo da encarnação do Cristo não podia ser o de redimir gratuitamente a humanidade, pois, de preferência, era o de com o seu exemplo ensinar-lhe como se faz para redimir-se com seu próprio sacrifício. Então era necessária a descida a Terra, de um ser menos distante do nível humano e não de um ser de dimensões acima dos limites que transcendem as nossas medidas normais, isto é, constituído segundo um modelo absoluto, situado nos antípodas daquele em que vivemos, que é o relativo. Como poderia ser proposto como modelo a imitar um ser de natureza totalmente diversa da nossa que não oferece aquela similaridade que permite o irmanamento? Um tal modelo estaria situado fora do processo evolutivo, enquanto no caso em questão era necessária a presença de um Ser que a conhecesse, por tê-la percorrido, antecipadamente, a mesma via crucis da evolução que cumpre ao homem trilhar e sobre a qual, aliás, já se encontra a caminho. Era em suma, necessário um Cristo que, como nós, já tivesse experimentado as dores da evolução, pelo menos até o nosso nível, e não um mártir extemporâneo descido do céu para em poucas horas de sofrimento, resolver o apocalíptico problema da reintegração do AS no S, sem ter percorrido todo o caminho necessário, o mesmo que a todos os seres cumpre percorrer. O não sujeitar-se a esta disciplina não passaria de uma tentativa de evasão da linha estabelecida pela Lei para alcançar a salvação. Trata-se de um caminho longo que leva milhões de anos para percorrer; trata-se da labuta tenaz de uma lenta maturação; estão em jogo fatos que não se improvisam e problemas que não se resolvem com um rápido martírio, demasiadamente breve para servir como uma escola capaz de operar uma verdadeira reconstituição espiritual da humanidade decaída. (P. Ubaldi - Cristo)

A paixão de Cristo não é um fato fora da Lei, pois constitui para Ele a última fase, conclusiva de um normal e longo processo de maturação evolutiva. Assim tudo fica dentro da ordem, e da logicidade da Lei. Deste modo aquela paixão não poderia confundir-se com uma improvisação sem antecedentes preparatórios, mas seria, de preferência, comparável ao último anel de uma cadeia, o momento decisivo do definitivo passo para a frente, o mesmo que lança o ser para fora do Anti-Sistema, para fazê-lo reentrar no Sistema, como coroamento de um precedente e imenso trabalho de maturação que alcançou o seu cumprimento. Assim tudo e conforme a Lei e se compreende. Desse modo Cristo é nosso irmão e mestre e como tal tem o direito de elevar-se como exemplo, porque fez aquilo que cada um de nós deverá fazer, obedecendo como Ele a Lei de Deus. (. . . .) Ele enfrentou o inimigo e fez primeiro aquilo que todos deverão fazer e farão para cumprirem e resolverem o ciclo involutivo-evolutivo. Ele tem o direito de se colocar como exemplo e cabe-lhe a função de modelo, porque a sua paixão não se reduz a de poucas horas que nós nos limitamos a comemorar, mas se projeta nos milênios que cada um de nós deve viver. Ela se condensa num cálice bem mais amargo, o qual consiste em ter de sofrer todas as provas, fadigas e dores do AS, absorvidas hora por hora, até assimilar toda a lição. (P. Ubaldi - Cristo)

Todas as religiões atravessam uma sua primeira fase mitológica e o Cristianismo não faz exceção. A lenda brota a cada passo. Ela é uma criação da alma coletiva, que sem falta se manifesta na formação de cada religião. Não há razão para que o Cristianismo lhe fizesse exceção. Assim o homem, baseando-se nalguns fatos, os mitificou, acrescentando-lhes elementos ideais que a realidade não contém nem pode conter. Obtém-se, deste modo, uma fusão de realidade e de sonho, uma construção excelente para os fins da evolução, porque consegue revestir os puros fatos reais de uma luz que lhes proporciona alma e consistência e com isso um impulso evolutivo que os mesmos não teriam capacidade de dar sozinhos. Ora, isto não significa um estéril devaneio, pois esta mitificação cumpre a importantíssima função de fazer descer o ideal na Terra, contribuindo, assim, à realização de formas de vida mais avançadas e, portanto, ao verdadeiro progresso do homem. É por meio do mito que o ideal toma corpo na consciência coletiva onde se fixa realizando a evolução. (. . . .) É natural que, uma vez chegadas a uma fase mais avançada, as precedentes formas mais baixas não sejam mais necessárias. É um fato que aquele mundo lendário resiste cada vez menos as críticas dos tempos modernos. Assistimos hoje a um processo de desmitificação que não é destruição do passado, senão no sentido de que o velho tipo de compreensão é substituído por outro mais complexo e progressista. As antigas religiões colocavam o homem ao nível dos mais elementares instintos animais, como fome e sexo, luta e medo, ódio e morte etc. Sucessivamente essas religiões se humanizaram, saindo da fase selvagem, mas conservando-se sempre no nível dos impulsos instintivos do subconsciente. Com o Cristianismo a religião se espiritualiza até ao nível do sentimento, do amor ideal, das razões do coração. Realizam-se, assim, maravilhosas construções no terreno fideístico-emocional. Não se trata de vãs fantasias, mas de criações do inconsciente que têm um profundo significado biológico. isto porque elas cumprem uma real função criadora, expressando uma técnica de aquisição de novas qualidades superiores por parte da personalidade; representam, em suma, um instrumento de conquista biológica, em sentido evolutivo, a nível espiritual. (P. Ubaldi - Cristo)

A vida hoje nos diz: trabalha. É verdade também que a vida atual não se pode valorizar senão vivendo-a em função de um seu futuro maior. Mas é pernicioso desvalorizar a vida terrena que tem a sua grande função construtiva também em sentido terreno. Pelo fato de se conceber a vida também neste sentido, se deve o progresso e a civilização, que são ótimos meios para conseguir, também no Céu, um futuro melhor. Não se sabe como seja possível construir no Céu uma humanidade de penitentes, que nada tenha sabido construir na Terra. (P. Ubaldi - Cristo)

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