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Trechos do Livro A Descida dos Ideais de Pietro Ubaldi

As leis que regem a vida representam o pensamento de Deus, tal como se manifesta em ação em nosso plano de evolução. Estas leis existem e, para funcionarem, como de fato sucede, não necessitam de modo algum, de nossas opiniões. Elas caminham independentemente das verdades sustentadas por qualquer grupo humano, seja partido ou religião, e vemos que continuam funcionando indiferentes ao fato de as negarmos ou ignorarmos. Elas abraçam a vida integralmente, inclusive a vida espiritual monopolizada pelas religiões. O ponto de referencia é portanto sólido e está aí visível, atual, objetivamente controlável, sem necessidade de mistérios, de revelações, de fé, de reconstruções históricas, de fatos longínquos. É um pensamento sempre presente, que sabe falar e fazer-se entender nos fatos, castigando-nos com as suas reações vivas e a sua lógica inflexível. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Prefácio)

Neste futuro próximo, a ciência prepara-se para demonstrar positivamente que o homem é também espírito e que, como tal, ele sobrevive a morte; voltando depois a ter experiências no plano de nossa vida física, até percorrer todo o caminho evolutivo, afastando cada vez mais em ascensão, que se realiza com o retorno a Deus. Por este caminho se chegará a uma religião cientifica que eliminará tanto o materialismo ateu como as religiões fideísticas. A ciência dominará positivamente o terreno que hoje ainda se encontra nebuloso, nas mãos das religiões. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Prefácio)

Não é pelas vias tentadas do atual ecumenismo católico que se chegará à unificação do pensamento religioso mundial. Este ecumenismo tende a uma unificação muito mais restrita, entre parentes da mesma família religiosa. Ele pode, em substância, reduzir-se a um chamado à casa paterna no sentido da absorção de ortodoxos e protestantes no catolicismo, para que se submetam a Roma. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Prefácio)

A religião cientifica, porque demonstrada como verdadeira, não pode permanecer no estado de hipocrisia, impossibilitando ser tomada a sério. Esta será a religião do Terceiro milênio, feita não de autoridade e palavras, mas de livre convicção e de fatos. Não será proselitista, sectária, fideísta, dogmática, exclusivista, mas positiva, racional, demonstrada, convicta, universal. Nossa Obra será compreendida quando o homem chegar a este mais avançado grau de evolução. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Prefácio)

Ser agredido e roubado legalmente representa já um certo progresso em comparação com o ser assassinado na estrada. A própria técnica do delito está assim submetida à evolução e hoje podemos observar que com isso se evita sempre mais a violência e o derramamento de sangue, que agravam a pena legal, e com artes mais sutis se procura a posse do que é mais útil, isto é, o saque. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 1)

O ideal nos é oferecido do céu como uma proposta de trabalho. Cabe pois ao homem traduzí-lo em realidade. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 1)

As resistências das coisas velhas são imensas. E enquanto o egoísmo das vitimas, seguindo as leis do plano humano, não conseguiu organizar-se para impor ao egoísmo dos que provocam os danos e obrigá-los a respeitar os direitos de todos, haverá sempre lugar para os desonestos, para sua vantagem e prejuízo dos demais, e jamais se passará à fase de acordo e equilíbrio em que se supere esse sistema. Este fato justifica e torna necessária a presença das leis e as respectivas sanções punitivas para estabelecer uma ordem na sociedade. Mas justifica, também, a rebelião quando essas leis não respondem à justiça, estão feitas por um grupo dominante a seu favor: revoltar-se para estabelecer uma ordem que dê vantagem cada vez menos a uma parte e seja mais universal, que defenda os interesses de um número sempre maior de pessoas, até chegar a abranger a todos. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 1)

Um ideal demora milênios para ser assimilado. Quando já cumpriu a sua função, porque o ideal foi todo utilizado num sentido evolutivo, então aparece outro mais adiantado, de maneira que a humanidade possa continuar progredindo. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 1)

Apesar do evoluído realizar uma grande função biológica, o ideal evangélico transportado para o terreno da realidade da vida, torna-se uma utopia, como coisa fora do lugar. A sociedade humana funciona com princípios opostos. Não é o estado orgânico colaboracionista que prevalece, mas o sistema de grupos dentro do qual se entrincheiram os interesses, espécie de castelo medieval, fechado e armado contra todos os outros castelos. Então uma pessoa não é apreciada pelo seu valor, mas conforme esteja dentro ou fora do próprio grupo. Eis a primeira pergunta que se formula: ele é um dos nossos? (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 1)

Como pode a mente humana, que é um produto de nossa vida, conter elementos de juízo e unidade de medida que ultrapassem os limites dela? (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 2)

Transformismo e relatividade progressiva por si sós não se mantêm, necessitando de um absoluto que cumpra a função oposta, servindo de suporte. A isso leva o próprio princípio do dualismo universal, pelo qual cada posição existe em função do seu oposto, com cuja união somente é possível reconstruir a unidade, reunindo assim as duas metades divididas. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 2)

A humanidade hoje se encontra na encruzilhada: ou ela segue a linha da evolução segundo o plano de Deus, que é o da espiritualização, avançando em direção ao Sistema para adquirir as suas qualidades, ou pelo contrário, continuando a seguir a psicologia do passado, feita de egoísmo e agressividade destrutiva, se prestará a fazer um uso louco dos novos potentíssimos meios dos quais dispõe. No primeiro caso, poderá alcançar uma verdadeira civilização; no segundo se autodestruirá e a supremacia da vida sobre o planeta passará a outras raças animais inferiores que substituirão a humana. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 2)

As nossas verdades não expressam outra coisa senão a maneira pela qual são vistas e concebidas para cada um, num dado momento. Elas são, portanto, relativas ao observador e progressivas no tempo. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 2)

Os vários graus de conhecimento que a evolução nos oferece alcançam-se com tipos variados de inteligência, proporcionados ao nível biológico conquistado pelo indivíduo. Para as formas superiores de conhecimento os primitivos estão completamente imaturos. Podem recebê-lo, aprendê-lo, repeti-lo, possuí-lo em aparência, mas uma coisa é a erudição e outra é saber pensar. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 2)

A prosperidade pode constituir um perigo, um alimento grato, mais venenoso. Saber ser rico é muito mais difícil e arriscado do que ser pobre. Seria uma coisa nova na história ver uma sociedade rica que não se arruíne. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

Eis o significado do atual momento histórico. Esta é a hora da maior conquista da humanidade, mas também da sua maior batalha, a hora das maiores possibilidades, mas também dos maiores riscos e perigos. Estão se deslocando as posições de base de nossa vida, desmoronam-se as muralhas do tempo do passado, nos quais não há mais espaço para o nosso pensamento, para edificar-se outros maiores; construtores de nosso eterno destino nos aprontamos para subir outro degrau ao longo da escala da evolução em direção a um mais alto plano biológico. A revolução já esta em ação, a verdadeira, a que é feita pela vida, por cima de todas as outras feitas pelo homem, de interesses ou de política. A voz de Deus, de dentro, grita: avante, avante! A sua mão está estendida para ajudar a humanidade a realizar o grande salto da transição evolutiva, ajudá-la a vencer as forças do mal que lutam para sufocar este desenvolvimento, e transformar a subida em descida, a vencer as forças do egoísmo, do cálculo, da negação, que quereriam que, uma vez mais, o Anti-Sistema prevalecesse sobre o Sistema. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais -– Cap 3)

Como fazer compreender a quem suporta as dores da fome, a necessidade de evitar as dores a que leva a uma indigestão? (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

O problema humano mais vivo é o do "meu" e o do "teu". A luta mundial entre imperialismo comunista e imperialismo capitalista, é luta do "meu" e o do "teu". O comunismo é uma ideologia de assalto ao sistema do "meu", que é o da propriedade e capital; no entanto, com semelhante ideal tomou posse do que pertence aos outros, tira-o também do próprio povo, para concentrar todo nas mãos da classe dirigente. O jogo é sempre o mesmo: o mais forte tira dos outros para si. Assim é a natureza humana e não é uma ideologia que pode transformá-la. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

Não esperemos portanto que o progresso técnico transforme o homem num átimo, e que por si só seja suficiente para determinar o seu avanço mental, cultural, espiritual, de que falamos. O novo bem-estar poderá ser utilizado neste sentido pelo já maduros, encaminhados de há tempo. Mas para muitos, ainda involuídos, tal elevação de nível de vida poderá levar primeiramente ao ócio, aos gozos de tipo inferior, aos vícios, a um desencadeamento de novos baixos desejos, a um requinte no mal. Quando o centro espiritual de um indivíduo esta em baixo, naquele nível ficam as sua manifestações. Não se pode pretender que um primitivo saiba responder diversamente daquilo que ele é, e que utilize os seus meios com um cérebro diferente daquele que possui. Cada ser, quando se encontra em condições que lhe favorecem o desenvolvimento, poderá desenvolver apenas o tipo que já apresenta. Depois então o adapta às novas condições de vida. Mas no princípio só poderá aumentar e fortalecer-se segundo aquilo que já é. Se damos a uma planta venenosa meios para prosperar, isto a levará a fazer-se mais potente no seu veneno. Assim, ajudados, um escorpião, uma serpente, um macaco, se tornarão cada vez mais escorpião, mais serpente, mais macaco. A construção espiritual, o elevar-se a um mais alto plano de existência, é fenômeno lento e complexo, é uma maturação em profundidade. Para alcançá-la é necessário lutar, sofrer e vencer. Não basta para fazer o homem, a gratuita ampliação das mais favoráveis condições de vida exterior. A evolução é uma laboriosa conquista; ela leva em direção à felicidade, mas esta deve ser ganha e merecida. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

Independentemente do comunismo, e fora da sua zona de influencia no mundo, hoje se afirma cada vez mais uma tendência geral à socialização. O comunismo não é mais do que um aspecto da expressão mais ousada, ativa e evidente deste fenômeno, o socialismo, que assalta toda humanidade. Tratando-se de um fato que se encontra por toda a parte, mesmo em terreno politicamente oposto, como também de profundas mutações no modo de conceber e colocar os problemas, de agir, de regular as relações entre os vários elementos da coletividade, enquadrando-os numa nova ordem, pode-se verdadeiramente falar de transformação evolutiva e de fenômeno biológico. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

O progresso da medicina, o conhecimento das leis da vida, poderão permitir ao homem tomar a direção do fenômeno da evolução biológica do planeta, o que é indispensável numa humanidade chegada ao estado orgânico. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap3)

A técnica produziu os meios de comunicação utilíssimos para aproximar os elementos distantes e mantê-los em contato, sem o que não é possível chegar a compreensão recíproca, à colaboração, e por fim ao estado orgânico unitário. Quantos gênios no passado realizaram, sem resultados, esforços desesperados nesta direção evolucionista, porque lhes faltavam os numerosos meios que oferece a técnica! (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

Hoje busca-se concretizar ideais, como a unificação econômica de vários Estados, coisa anteriormente inconcebível. É a evolução que exerce pressão para arrombar as portas do separatismo; a mesma que arrombou as portas e abateu os muros que fechavam as cidades medievais, hoje destrói alfândegas, limites, nacionalismos e racismos separatistas, para aproximar cada vez mais da fusão num só organismo. Assim também o progresso da mecânica pode ser útil ao desenvolvimento do pensamento. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

Uma repentina alteração de condições de vida em indivíduos despreparados para saber bem utilizá-los, não pode deixar de provocar instintivas reações de abuso, tendentes em primeiro lugar a compensar as dolorosas carências precedentes com a imediata realização desse ideal de gozo por tanto tempo comprimido no subconsciente. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

O instituto da propriedade historicamente representa uma posterior legalização, para estabelecer juridicamente a favor do proprietário um aleatório estado de fato ou posse, formado no início, fora de qualquer lei, por um livre ato de apropriação. É natural portanto que quantos tenham ficados excluídos de tal conquista e não compartilhando de suas vantagens, com o mesmo método sejam a repetir o mesmo ato, à custa de quem o realizou primeiramente. Eis como surgem os ladrões e a necessidade de uma propriedade armada em contínua defesa contra eles. Eis que o furto e propriedade são duas forças opostas que se equilibram no seio do mesmo fenômeno. Uma implica na outra, leva-a consigo, fazendo-a nascer logo que ela nasce; porque ambas fazem parte do mesmo regime e se apóiam sobre a mesma forma mental da avidez egoísta, e seguem inseparáveis. Proprietário e ladrão no fundo são como dois cães à volta do mesmo osso. O primeiro luta para continuar sendo dono. Esta é a substância das defesas jurídicas. E o segundo luta por tornar-se dono. Esta é a substância dos assaltos, em pequena escala com o furto, em grande com as revoluções. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais -– Cap 3)

Seguindo a configuração celeste como se apresenta no fim de 1964, enquanto escrevo estas páginas, os astrólogos observam que a conjugação entre Urano e Plutão tem uma influencia de tipo revolucionário, destruidor das velhas formas. Isto é útil como meio para libertar o terreno para novas construções e prepararia o advento da nova era. Plutão representa a influência demolidora do passado, das suas estruturas materiais e mentais. Urano representa a influência explosiva, o dinamismo criador do novo. Isto indica um contraste entre um despertar espiritual que quer realizar-se e a resistência de forças negativas que procuram impedi-lo. O momento atual seria, portanto, uma fase de laboriosa preparação de novos estados futuros. Com influência menor, Saturno indica, pela sua posição a passagem entre duas eras, com a função de rendição de contas, pelo que se resolve o Carma com a liquidação do balanço passado e a preparação do futuro. Tudo portanto se moveria em direção a uma nova era. Ao trabalho de tal íntima elaboração deve-se aquela agitação febril, de que falávamos anteriormente, própria do momento crítico e que se manifesta em distúrbios neuropsíquicos (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

Eis que, na economia da evolução, o nascimento espontâneo do abuso tem uma função na medida em que conduz a uma inversão de valores, com a morte dos velhos e o surgir dos novos. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 3)

A cosmo-bio-noogênese de Teilhard de Chardin corresponde ao físio-dínamo-psiquismo de A Grande Síntese. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais – Cap 4)

Ao trabalho espiritual é dado o valor zero no mercado das coisas humanas, de modo que a liberdade de pensamento e atividade correspondente é coisa permitida apenas, a quem possua independência econômica. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 4)

Todo grupo humano de qualquer espécie, toda escola filosófica, religiosa, teológica etc. têm o seu patrimônio de idéias e terminologia própria, a sua linguagem particular, a sua forma mental, que enquadram o pensamento, cristalizando-o; e dentro dela pretendem encerrar e limitar também o pensamento de quem ataque de frente os problemas por eles tratados. Se depois, aquele pensamento chegou a uma fase avançada de velhice e de conseqüente cristalização, e fixou-se numa codificação de normas mecânicas para uso de uma determinada organização humana, tudo se estanca e, naquele campo, a evolução pára. Então o novo é simplesmente julgado errado e portanto condenado. As verdades tratadas por aquele grupo e escola tornam-se propriedade sua, e portanto reservadas e intocáveis. De resto, isto é justo porque foram construídas por eles, que assim têm o direito de possuí-las em exclusividade e de defendê-las como coisa própria. O erro está em querer dar à posse da verdade um sentido diverso e maior do que de legítima propriedade reservada para uso e vantagem de quem a possua. O erro está no fato de que os grupos e escolas pretendem dar um valor universal, eterno, absoluto, às suas verdades particulares que, como tudo na Terra, não podem ser mais do que relativas e progressivas no tempo. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais – Cap 4)

É certo que dizer ao homem que Deus o criou à sua imagem e semelhança pode ser útil para efeitos educativos, enquanto o investe de uma dignidade que ele, através da sua conduta, se sente levado a respeitar. Se quisermos, porém, compreender o homem nos seus impulsos, instintos e ações, devemos vê-lo em função das formas de vida já vividas por ele, na sua posição no cimo da escala zoológica da qual emerge, mas da qual todavia faz parte, ou seja, em posição biológica em vez de metafísica, porque se esta representa o futuro viver, o homem, da primeira já vivida, conserva em si os traços mais profundos, de um tipo bem diferente do metafísico. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 4)

O orgulho pode ser considerado culpa quando há um rival que por ele se sente lesado, e por isso o condena. Mas quando o orgulho é de todos, torna-se uma auto-exaltação coletiva; ao faltar a reação contrária ele é aceito por consenso universal e, sendo vantagem para todos, torna-se verdade (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais – Cap 4)

As ideologias de qualquer tipo constituem o castelo dentro do qual, quando não se pode usar a força, o grupo se entrincheira e se defende. É por isso que as ideologias, sejam religiosas ou políticas, exigem fé, o que significa consentimento, adesão e, por fim, obediência, que é o ponto fundamental em que cada grupo insiste porque constitui a base do seu poder. Os elementos do fenômeno são sempre os mesmos: proselitismo para estender o domínio e autoridade para mantê-lo. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais – Cap 4)

Enquanto se pertence a um determinado nível biológico, até que por evolução não se consiga sair dele, fica-se encerrado dentro das suas leis às quais se deve obedecer. A reação que dá razão ao ideal verifica-se só no momento no qual o indivíduo, por ter progredido bastante, está maduro para evadir-se do plano biológico inferior e entrar no superior. Assim sucedeu também com Cristo. Enquanto esteve vivo na Terra, o ideal foi com Ele crucificado. Ele pôde triunfar como vencedor só quando, estando morto, se encontrou fora do plano biológico humano e não antes. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais – Cap 4)

Hoje abre-se o caminho para a concepção dinâmica, que nos diz que o paraíso não se conquista só negando a vida terrena com a renúncia, mas sobretudo afirmando-se de um modo positivo, com o trabalho e a conquista no terreno do pensamento e do espírito. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 4)

O fato é que, para que uma verdade seja aceita na Terra, deve esperar que os cérebros amadureçam para compreendê-la e estejam prontos para aceitá-la. A princípio não é admitida. Isto prova que a verdade é relativa e não pode existir senão em função dos cérebros nos quais tem de penetrar. Se as religiões possuem, recebidas por obra de videntes superiores, verdades mais avançadas, a base concreta sobre a qual se apóiam na Terra as verdades religiosas, é o consentimento coletivo; não é apenas uma afirmação teórica, mas sobretudo a sua existência nas mentes; é a aceitação por parte das massas, uma corrente psicológica de fé que introduza aqueles conceitos na vida. Esses de fato são verdadeiros enquanto gozam de tal consentimento, enquanto existe tal aceitação e corrente de pensamento. O paganismo, com seus deuses e templos, existiu como verdade enquanto houve quem acreditou nele. Ele acabou de existir e não foi mais verdade logo que a humanidade deixou de crer. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 5)

O homem é o mesmo e faz as mesmas coisas em todas as religiões. Muda só a forma, as palavras, o estilo. Trata-se de leis biológicas que funcionam para todos os seres situados no nível evolutivo no qual se encontra a raça humana na sua média. Por exemplo, a base mais forte de uma amizade, é a presença de um inimigo comum. A fraternidade entre os seguidores de um grupo nasce e se reforça com o condenar os de outro grupo. Estas são as leis biológicas que vemos aplicadas por toda parte. Passar de uma religião para outra não suprime o espírito sectário que é qualidade humana. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 5)

As mentes, para terem uma sensação de segurança e não se equivocarem, na formação da própria conduta, têm necessidade de crer que alcançaram a última verdade, absoluta, imóvel, porque parece que só uma tal verdade possa garantir uma segurança na qual se confie totalmente. De outro modo seria querer basear a ética apenas em princípios relativos, flutuantes, portanto discutíveis. Para merecer obediência se necessita de uma verdade imóvel, dogmaticamente fixada, absolutamente segura e definitiva nas suas afirmações. Uma verdade que muda e se contradiz não é mais verdade; ela deve ser sempre verdadeira e não hoje sim e amanhã não, próprio da psicologia humana. A verdade deve ser infalível comando de Deus que já sabe tudo, e não uma progressiva aproximação humana daquela verdade. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 5)

De uma coisa que verdadeiramente não existe, não se possui sequer a idéia, e quando se nega a existência, é porque essa coisa é conhecida, o que significa que existe. E quanto mais se nega a existência, tanto mais o próprio fato de negá-la prova que ela existe. Mas então, que se quer negar quando se nega a Deus? Pretende-se somente destruir com a própria negação, não a existência de Deus, o que é impossível, porque ela não depende das nossas opiniões, mas destruir a afirmação alheia da sua existência, isto é, a idéia alheia de que Deus existe. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

A demolição espiritual implica, como conseqüência, na demolição material, representando a última fase do mesmo processo de destrucionismo, e, nesta forma concreta, faz-se compreensível a todos, quando não for demasiado tarde para deter o movimento. Mesmo que o mundo não o compreenda, a destruição dos valores espirituais leva à destruição dos materiais, valores estes que constituem o mais precioso tesouro para o homem atual; ele próprio a provoca com a inconsciência de uma criança que, brincando com um revólver carregado, poderá matar-se a qualquer momento. Para melhor satisfazer a voracidade do estômago, é mais prático e de tangível utilidade imediata eliminar o esforço de fazer o trabalho de alimentar o cérebro. Assim se goza e se engorda. Possuirá, porventura, o estômago a sabedoria e a consciência para dirigir os movimentos do corpo? Onde irá terminar se for abandonado a si próprio? Como a defesa e a sobrevivência do corpo depende de um guia, o cérebro que o move, também a conservação dos bens materiais depende da existência das diretivas espirituais. Hoje, neste mundo, devido a potência dos meios destrutivos, é necessário redobrado juízo para não acabar matando-nos a todos, à força de desapiedados egoísmos. Vai-se perdendo a cabeça ao eliminar esses freios espirituais, feitos de ordem e justiça, que são os mais aptos a salvar-nos. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

Matar o ideal é perigoso, ele cumpre uma função biológica necessária, de orientação da vida projetada em direção ao futuro. Se a envenenamos no seu nível mais alto, o espiritual, acabaremos por envenená-la toda, também no plano material. A medicina psicossomática reconhece que a origem de algumas doenças orgânicas deve procurar-se no terreno psíquico. Em tal caso, as etapas sucessivas da ação da psique sobre o corpo são: "Distúrbio psicológico, anomalia funcional, alteração celular, lesão anatômica". Existe uma psicogênese das doenças físicas. Perante a higiene psíquica, a humanidade encontra-se na idade pré-desinfecciosa, indefesa contra os ataques e os venenos psíquicos do ambiente. Se a vida se corrói no seu pólo espírito, acabará por corroer-se também no seu pólo matéria. Se destruímos a saúde do órgão de orientação diretiva, destruiremos forçosamente, a do organismo físico que depende dele. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6) É o pensamento que se encontra nas raízes da vida. O desmoronamento espiritual precede o desmoronamento material e lhe anuncia o começo. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

O fato de o Prêmio Nobel de Literatura ter sido, neste ano de 1964, conferido a Sartre, prêmio que representa o pensamento oficial, julgando o melhor produzido em nosso tempo, confirma as precedentes afirmações, daí haver motivo para crer-se que foi conferido em sentido oposto ao desejado pelo próprio Alfred Nobel, fundador do prêmio. Pode-se assim compreender o erro e seu perigo que este estímulo representa. Não se trata apenas de ter tirado uma ajuda aos construtores, mas de ter ajudado aos destruidores, acelerando a velocidade na descida. Não se pode deixar de ver em tudo isto uma vingança histórica lançada em direção destrutiva, que se liga no campo espiritual, enquanto no terreno material se está preparando com a contínua e sempre mais difundida construção de bombas atômicas. Assim, o destrucionismo no campo espiritual chegará até às últimas conseqüências no campo material. Vivemos num universo em que tudo está ligado e repercute de um pólo ao outro, de modo que nenhum movimento se pode isolar das suas repercussões. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

Então, a filosofia de Sartre não é uma filosofia de potência, apoiada em bases positivas, mas de fraqueza porque se apóia sobre base negativa, tal como o egocentrismo do indivíduo que se auto-eleva pretendendo substituir-se por Deus; não é uma filosofia de esperança e salvação, mas de desespero e perdição; não é a filosofia de quem vence, mas de quem fica derrotado na luta pela sobrevivência. A própria vida, medindo-a com o seu metro biológico positivo, condena tal filosofia negativa, perante o supremo fim da sobrevivência, como sendo uma coisa gasta, decadente, antivital. Nietzsche, outro negador de Deus, teve pelo menos uma fé, se bem que emborcada, involuída, mas poderosa e vital: fé num super-homem bestial, tentativa de herói satânico, que tem a força de erguer-se diante de Deus como um desafio, possuindo a coragem de conduzir, sozinho contra todos, uma luta sobre humana para se manter e vencer em posição de anti-Deus, dominador do caos. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

É alarmante que o mundo tenha respondido à tendência destrucionista de Sartre, não reagindo ou rebelando-se, mas seguindo-o; é também grave porque prova que o mal não é a exceção de um caso individual, mas é um fato coletivo, dado por uma corrente psicológica, expressa com a filosofia da moda, que se chama existencialismo. (P. Ubaldi _ A Descida dos Ideais - Cap 6)

"Diz- me como reages e direi quem és". Golpes na vida há para todos. Cada indivíduo reage diante deles, de forma distinta, e com isso revela a sua verdadeira natureza. Não sendo positiva a sua filosofia, a única coisa que Sartre pode nos oferecer é mostrar-nos seu tipo de reação. Ao expressá-la, atribui a causa a Deus, ao absoluto, à filosofia, ao mundo; em realidade não expressou senão a sua reação pessoal, não fez mais do que revelar-se a si próprio, elevando a sistema filosófico o que era a premissa axiomática, indiscutível, de cada afirmação sua, isto é, a sua forma mental, o seu temperamento, o seu tipo de personalidade e, portanto, de reação. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

Em certo momento, oferecem-nos um existencialismo ateu e pessimista, como sistema filosófico levado a conclusões éticas, com pretensões de moralista! Deseja-se encher o vazio com o vazio. Oferece-se como diretiva uma ausência de diretivas, ou pior, uma diretiva em descida, que acelera a destruição. Esta é a vitalidade do câncer. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

A nossa Obra é uma reação a essa destruição espiritual que, neste período de decadência do mundo, tende a fazer-se universal na pintura, escultura, música, literatura, moral e filosofia. O valor reside no resistir a essa destruição, ou melhor, no lançar-se a construir para se preparar a preencher o vazio a ser deixado. Por isso, não oferecemos uma filosofia de palavras, sutil de requintado bizantinismo, vã e decadente, como a que está hoje em moda. Oferecemos uma espiritualidade forte, positiva e criadora, de superação evolutiva e de construção biológica; é uma espiritualidade que não se apóia apenas sobre convencionais bases fideísticas religiosas, mas sobre controláveis bases científicas e racionais. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 6)

Massas de milhões de plantas cada dia, assimilando-a no seu organismo, transformam a matéria prima inorgânica em material orgânico. Milhões de animais comendo-o e assimilando-o, transformando-o assim em carne o levam a um nível mais alto. Milhões de seres humanos, sem poder deter-se, para viver, devem ingerir cada dia montanhas de toneladas deste material que plantas e animais lhe fornecem, transformando-o em substância ainda mais evoluída, nervos e cérebro, produtores de dinamismo volitivo e mental. Gradualmente diminui a massa da quantidade em favor da qualidade na qual ela se transforma, destilando e concentrando os valores espalhados naquela quantidade. Para que serve esta contínua ingestão de matéria de grau menos evoluído, colocada assim em circulação para cumprir funções cada vez mais elevadas em organismos mais evoluídos? Começando pelas plantas assimiladoras do terreno, e assim se elevando até ao homem, vemos que a matéria, do seu estado inorgânico passa através de uma elaboração contínua, pela qual os átomos que a compõe, chegam ao estado orgânico da vida, até ao nervoso e cerebral, no qual devem saber funcionar como elemento do instrumento do pensamento; esses átomos dispõe-se a colaborar de mil maneiras e devem aprender muitas coisas. Assistimos assim a uma espécie de curso de educação da matéria. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 8)

A multidão dos ingênuos que se deixam enganar diminui cada vez mais: eles despertam ou são eliminados. O engano pode dar fruto enquanto exista quem caia nele, a falsa verdade pode ter êxito enquanto exista a fé de quem creia. Mas cai o jogo se numa verdade nos interessamos principalmente em descobrir a mentira que ela esconde. Por isso em matéria de religião se insiste tanto sobre a fé e se condena como perigoso aquele que quer pensar e compreender demasiadamente. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 11)

Não nos iludamos. Mesmo para o triunfo de uma idéia na Terra é necessário vencer no plano humano, porque em nosso mundo só o vencedor tem o direito de estabelecer a verdade. O vencido é considerado culpável. Então o ideal deve submeter-se às leis da Terra. Depois da necessidade de possuir, indispensável meio de domínio, a necessidade de conservar esta posse. A eternidade dos princípios tende a concretizar-se numa eternidade de meios materiais necessários para sustentá-los na Terra. Disto nasceu em várias religiões, o instituto da castidade do clero; em vista de tais fins positivos fez-se dele uma virtude. A sua verdadeira função é, pelo contrário, a de eliminar as conseqüências econômicas da procriação. Evita-se assim o possuir em favor do grupo familiar em vez do grupo eclesiástico, evita-se a perda da obrigação de deixar por herança aos familiares, herdeiros legais, ao invés da coletividade religiosa. Sem filhos tudo fica dentro da organização eclesiástica. Assim se fecham as portas de saída, enquanto ficam abertas as da entrada. Na Terra os grupos de qualquer gênero estão em rivais posições de guerra. Daí a necessidade de viverem compactados como soldados, sem ter entre os pés o travão de pesos mortos para arrastar, como são mulheres e filhos. Então o sexo torna-se pecado porque tem como resultado a procriação de rivais pretendentes à posse. Principalmente no passado quando, sendo desconhecidos os métodos de controle da natalidade, não havia outro meio senão a castidade para evitar a procriação. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 11)

Hoje, saltam aos olhos as contradições que antigamente passavam inobservadas, como pregar o amor evangélico e abençoar as armas, exaltar a pobreza e possuir riquezas, difundir o ideal com os métodos de luta política. Por sua parte a ciência, com a medicina por um lado, defende a vida, por outro, constrói a bomba atômica para destruí-la, e as religiões não têm nenhum poder para impedi-lo. Vivemos numa época de desagregação moral. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 11)

O Cristianismo, também ele, seguiu em alguns casos esta tendência bem humana pela qual as coisas do espírito são concebidas em forma materialista. Foi assim que a vitória de Cristo sobre a morte e a continuação da sua vida foi entendida principalmente no plano físico, como ressurreição do corpo. Mas Cristo não era o corpo, era o espírito que não estava morto e que, tendo ficado vivo, para permanecer como tal, não tinha necessidade de ressuscitar. Como se vê, o problema da ressurreição de Cristo foi apresentado em forma totalmente materialista, identificando Cristo com o seu corpo, e como se fosse necessária a sobrevivência deste para que ele pudesse ficar vivo, enquanto a vida do espírito, na qual consiste verdadeiramente a pessoa, é independente da morte do corpo. Assim foi entendido o fenômeno da sobrevivência de Cristo esquecendo-se que o seu verdadeiro ser é espiritual e não físico. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 11)

A unidade individual de cada ser, que o distingue de todos os outros, é este eu interior que é a alma do fenômeno vida. Deste fenômeno a ciência deverá chegar a ver, além do aspecto físico exterior, também o espiritual, e isto inclusive nos graus mais involuídos da existência, como na matéria. Ela é considerada inanimada, mas já se descobriu de que complexo pensamento está saturada, e que dirige o seu funcionamento. Graus diversos de psiquismo, mas psiquismo onipresente, em forma de pensamento, de princípio, de lei diretiva. Em qualquer nível o sistema é o mesmo: seja o psiquismo inferior ou superior, mais ou menos desenvolvido, mas sempre em evolução, o que está menos avançado contendo em germe o que depois aparecerá mais avançado. É uma espiritualidade universalmente imanente nas formas que lhe fornecem consistência física e constituem o seu instrumento de expressão. É assim que não se podem separar um do outro, tanto o aspecto material como o espiritual do fenômeno, tanto o transcendente como o imanente. A matéria por si só não é completa nem auto-suficiente, não basta para explicar e governar a vida sem o suporte de um psiquismo animador e regulador. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 12)

O equilíbrio da justiça exige que o nosso direito possa nascer somente quando primeiro tenhamos cumprido o nosso dever em favor do direito dos outros, e que o direito dos outros possa nascer somente quando eles tenham cumprido o seu dever a favor de nosso direito. (P. Ubaldi - A Descida dos Ideais - Cap 13)

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