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Trechos do Livro O Sistema de Pietro Ubaldi

     Vimos que a evolução avança com regressos contínuos, compensados depois por maiores progressos, tal como ficou explicado em A Grande Síntese, pelo gráfico que traça o desenvolvimento da trajetória dos motos fenomênicos na evolução do cosmo. Ora, a atual fase materialista, no desenvolvimento do pensamento humano, representa aquele movimento que, naquele gráfico, é expresso por um período de envolvimento, que resulta menor diante do maior desenvolvimento de toda a trajetória; e assim, não obstante os seus contínuos regressos, esta continua sempre avançando. Por isso, a ciência materialista continuará a avançar, assumindo agora a tarefa, já não mais desempenhada pela religiões, de fazer progredir o pensamento humano. Não é destruição, é progresso. A função da ciência não é matar a fé, mas de fecunda-la com a razão e com a observação, de demonstrá-la, dando as provas de seus enunciados, que já agora se tornaram, em sua forma primitiva demasiadamente imprecisos e elementares, para poderem ser aceitos pela forma mental moderna mais evoluída. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Ninguém pode deter o progresso que, apesar dos conflitos, continua a avançar sempre impassível. Trata-se de uma lei irresistível da vida. Basta esperar. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Em cada ato nosso, repetimos o mesmo comportamento: primeiro concepção da idéia, depois ação, e finalmente a sua manifestação na realização concreta que, na forma, exprime a idéia. Por isso, não podemos dizer a razão pela qual Deus tenha querido existir como Trindade, mas assim podemos explicar-nos a razão pela qual nós funcionamos dessa maneira. Dado que o universo é construído segundo esquema de tipo único, que repetem em todas alturas e dimensões, repetimos em cada ato nosso aquele princípio da Trindade, o único que pode esclarecer-nos sobre essa estrutura de nossa maneira de agir e daquela sua forma de existir. É precisamente aquele primeiro modelo da Trindade, que vem repetido em todos os atos criadores de cada ser inteligente. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Apareceu-me Deus como uma esfera que abraça o todo, isto é, como conceito abstrato de esfera, existente além do espaço e cuja superfície está situada no infinito. Deus está no centro e domina toda a esfera, existindo também em cada ponto seu. Deus não pode ser definido, porque no infinito Ele simplesmente "é". Deus significa existir. Ele é a essência da vida. Tudo o que existe é vida, isto é, Deus. E Deus é tudo o que existe, que é vida. Deus é o ser, sem atributos e sem limites. O nada significa o que não existe. Ele não pode existir em si mesmo, por si só, mas só como uma função do existir, como uma sua posição diversa, da mesma forma que a sombra não pode existir por si mesma, mas só em função da luz, e o negativo não é concebível senão como contraposição ao positivo.
    Nós, como tudo o que existe, estamos em Deus, porque nada pode existir fora de Deus, nada lhe pode ser acrescentado nem tirado. Mas, como veremos, nós humanos, com os outros seres de nosso universo físico, encontramo-nos existindo numa posição particular, que é semelhante à da sombra em relação à luz. Como sobra fazemos parte do fenômeno luz, ou seja, fazemos parte do Tudo-Uno-Deus, mas como sombra, isto é, negativo, no polo oposto ao positivo da mesma unidade. Assim, diante do absoluto, encontramo-nos no relativo; diante do imóvel, no contínuo transformar-se; diante da perfeição, numa condição de imperfeição sempre em movimento para atingir a perfeição; diante da unidade orgânica do todo, encontramo-nos fragmentados e fechados em nosso individual egocentrismo de egoístas; diante da liberdade do espírito, encontramo-nos prisioneiros no cárcere da matéria e de seu determinismo; diante da onisciência de Deus, estamos imersos nas trevas da ignorância; diante do bem, da felicidade, da vida, somos presas do mal, da dor e da morte.
    Explicamos isto, para fazer compreender como, existindo nós em um mundo, que em relação a Deus está emborcado do lado negativo, só sabemos conceber Deus como uma negação de tudo o que constitui nosso mundo. Pelo fato de que somos sombra, só poderemos conceber Deus como a sombra concebe a luz, isto é, como o contrário de si mesma. Para poder atingir o positivo, seria indispensável, portanto, chegar a negar todo o próprio negativo, ou seja, dizer: Deus não é tudo o que nos aparece e existe como real; como para chegar à luz, mister seria tirar fora toda a sombra. Este nosso mundo da matéria, percebido pelos nossos sentidos, não é Deus. Este ou aquele fenômeno ou forma, em seu aspecto contigente, não é Deus. Mesmo se Deus está em tudo o que nós somos e vemos, tudo isto, por si só, não é Deus. Ele está além de todo fenômeno e forma, de toda posição do particular. Se se pudesse definir o infinito, a definição de Deus deveria estar para nós, primeiro, no negativo, isto é, como negação de tudo o que para nós, em nossa posição, ao contrário, existe.
    Todavia, há um fato. A sombra não é, absolutamente completa. Ela contém sem dúvida, reflexos da luz. Isto porque no atual plano de sua vida, o ser humano já percorreu certo trecho do caminho da evolução, ou seja, já subiu uma certa parte do caminho da descida e com isto reconquistou um pouco da perfeição originária. Ora, as definições comuns de Deus, em sentido positivo, foram obtidas com o elevar-se à potência infinita, as mínimas quantidades de perfeição reconquistada pelo homem ou intuída como futura realização a conquistar, isto é, os pálidos reflexos contidos na sombra. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Num sistema equilibrado, o desenvolvimento exagerado, para além da ordem leva a uma contração correspondente; cada expansão indevida, é corrigida por uma diminuição proporcional. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Eis então que esta visão se nos abre diante dos olhos, com aquele gigantesco drama, que foi chamado a queda dos anjos. Não foi uma queda em sentido espacial, mas foi demolição de valores, inversão de qualidades, descida de dimensões, ou seja, contração de tudo isto, através de uma progressiva inversão de valores positivos originários, até que se tivessem todos transformado no sentido negativo. Esta queda significa transformar gradativamente todo Sistema em Anti-Sistema. A descida é gradual e se prolonga até atingir a profundidade do abismo, representada pela completa inversão de valores, ponto em que o Sistema, com todas as suas qualidades, resulta completamente invertido no Anti-Sistema, com as qualidades opostas. Nesse trajeto, a luz vai ofuscando até se tornar treva completa, o conhecimento até se tornar ignorância, a liberdade do espírito até se tornar escravidão na matéria, a felicidade até se tornar em dor, a vida transforma-se toda em morte, o bem em mal, a ordem do organismo do Sistema até sua completa inversão no pólo oposto do ser no fundo da descida, no completo caos do Anti-Sistema. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Os involuídos sabem fazer bem as guerras e vencê-las, são muito fortes no terreno da luta pela vida, mas são impotentes diante do problema da busca da verdade. É preciso compreender este principio geral de que a verdade não se conquista - como as coisas humanas - pela força ou pela astúcia, mas sim pelo amor. A verdade não está escrita, mas fechada no pensamento de Deus, e só se revela a quem mereça conhecê-la, porque esse dará a garantia de saber usá- la bem. A verdade abre suas portas e se deixa conquistar pela sinceridade e pureza de intenções, pela humildade do pesquisador e pelo desejo de conhecer o bem. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Com a agressividade polemística não se difunde nem, muito menos, se descobre a verdade, antes pelo contrário ela fica sufocada e negada, pois tudo que não é amor não pertence ao Sistema, mas ao Anti-Sistema. (P. Ubaldi - O Sistema)

    A lei de Deus rege todos os fenômenos, e não há religião nem filosofia que lhe possa alterar o funcionamento. Tanto no mundo espiritual como no material, há fatos positivos que como tais a todos se impõem, independentemente de nossas crenças. Galileu não podia impedir que a Terra girasse em redor do Sol, nem fazer que o Sol girasse em redor da Terra, só porque a Bíblia podia fazer supor que assim aconteceria. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Nenhum fenômeno ocorre ao acaso, mas sempre de acordo com uma sua lei que o guia e individualiza. Assim o desenvolvimento de cada processo lógico tem uma lei sua, como a tem o desenvolvimento de cada processo dinâmico, ou químico, ou orgânico etc.. Em cada fenômeno as causas se continuam em seus efeitos até às conclusões. Nenhum momento do "tornar-se" universal se move por acaso loucamente, mas dentro de margens que lhe disciplinam o transformismo, coordenando-lhe ao de todos demais fenômenos, no seio do funcionamento do grande organismo do todo. (P. Ubaldi - O Sistema)

    O pensamento de todos não pode deixar de estar enquadrado automaticamente no pensamento universal, de que constitui justamente um momento. Nossas liberdades de pensamento são relativas, contidas em margens que assinalam a estrada, que leva o incerto caminho de nossa ignorância, em direção à ordem da Lei, dentro da qual são permitidas apenas oscilações no relativo. Estudando, portanto, essas leis e a teoria que as explica, ao mesmo tempo que a discutimos, demonstramos a existência de um organismo e percebemos que nós mesmos fazemos parte dele, até chegar a ver em que ponto seu estamos situados. Assim a construção teológica e filosófica que aqui expomos, não é um edifício de conceitos, criados pela mente de um pensador que projeta nele a sua personalidade, elevando a sistema uma forma mental particular sua; não é somente uma construção teórica, mas é o funcionamento vivo do todo, observado enquanto está funcionando, enquanto nós mesmos estamos funcionando dentro dele. (P. Ubaldi - O Sistema)

    A ignorância é fruto da queda, fruto que se anula com a subida, e nós estamos justamente realizando esse trabalho de anulação da ignorância. Parece-nos que nos movemos ao acaso, e por tentativas. Assim parece a nossa ignorância e, relativamente a nós, é verdade. Mas na ordem de Deus já estão assinalados os planos da subida e a posição do ser, mesmo no que respeita ao conhecimento, ao longo desses planos. Em nossa agitação confusa, não podemos seguir outro caminho senão o que já foi traçado. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Dissemos que Deus não pode ser definido. Definir quer dizer limitar, delinear, em relação a certos pontos de referência. Ora, o infinito não pode ser limitado e não existem pontos de referência para o absoluto que abarca tudo. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Deus deve ser justo, isto é, imparcial, sem favoritismos e dádivas não razoáveis e injustas, porque não merecidas. Surge assim a idéia de uma ordem e de uma lei que a dirija. Um chefe, que tem o direito de comandar e para com o qual se tenha o dever de obediência, não pode ser um déspota caprichoso que abuse do poder que tem nas mãos. Compete, em primeiro lugar, a quem personifica a lei, representar sua perfeita atuação na ordem e na disciplina. Só quem jamais transgride pode ter o direito de exigir a obediência. E se esta Lei representa apenas o próprio pensamento e vontade de Deus, com isto Ele obedece apenas a Si mesmo em perfeita liberdade. ( P. Ubaldi - O Sistema)

    A criação não produziu apenas uma simples multiplicidade, mas um verdadeiro organismo. Daí nasce a necessidade de admitir-se uma presença de uma ordem, e portanto de uma lei que discipline os movimentos de todos elementos constitutivos do Sistema, lei que representa a continuação da autoconsciência da Divindade que, como pensamento central situado no topo da hierarquia, a dirige e, dessa forma, dirige todo o Sistema. Só assim o Tudo-Uno-Deus podia apesar de tão grande transformação, permanecer idêntico a si mesmo. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Não é o povo que escolhe, elegendo um chefe (os sistemas eletivos não o são em absoluto), mas é o chefe que, por ser o mais poderoso, conseguiu vencer todos os outros pretendentes, e se faz livremente escolher pelo povo, em grande parte sugestionado e inconsciente. Não é o governo que serve o país, mas em muitos casos o governo é que se serve do país para manter-se no poder. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Uma unificação que se baseia no constrangimento e no esmagamento, permanece sempre ameaçada pela revolta de outros egoísmos, que tentam conquistar o primeiro lugar, usando o mesmo método e seguindo os mesmos princípios. O fato de que permanecemos ainda no terreno do Anti-Sistema, implica que esteja pronto a cada momento a voltar o motivo da revolta, do egoísmo separatista, próprios da criatura decaída que ainda não se regenerou. É assim que se explica porque, apesar de tantas tentativas de unificação e tanta força e astúcia para mantê-las de pé, elas se encontram sempre a ponto de cair: porque nas organizações desse tipo, a revolta está sempre latente, e deve ser contida constantemente por uma força maior. Logo que essa cesse, tudo desmorona. Por isso, diz o Evangelho que "quem usa da espada, perecerá pela espada", e que a violência só pode ser vencida pela não-resistência. A violência atrai a violência. Tão logo surge na Terra uma unidade nascida desses princípios, contra ela nasce outra unidade inimiga. Este fato só se explica com estas considerações. E também se explica porque todas as construções humanas, desmoronando-se, são superadas por outras. Caem assim impérios, as revoluções substituem uma ordem social por outra, um após outros ruem todos os governos, os partidos são feitos e refeitos, e os próprios homens se lançam a um e a outro numa contínua reorganização. Tudo se baseia na força, seja de armas, seja econômica, seja de número, mas na força. E todos se apegam a esta, porque é a única defesa no Anti-Sistema. Todos se apegam a esta porque sabem que, se falharem, estão perdidos. (P. Ubaldi - O Sistema)

    O útil não consiste em vencer um inimigo, pois logo surgem outros, num inferno permanente; e sim vencer o sistema da força e sair do Anti-Sistema. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Não podemos atribuir às forças do mal um poder próprio absoluto, uma existência autônoma independente, mas apenas um poder e uma existência em função das forças do bem, que são mais fortes, das forças de Deus que regem o Sistema e o Anti-Sistema: portanto, também o mal lhes deve obedecer. Os poderes rebeldes da desordem estão, pois, subordinados aos poderes obedientes da ordem, e como tais não podem deixar de dar sua contribuição, embora de forma invertida, no negativo, como resistência, como banca de exame e de experiência para a vitória do bem. Satanás, é mister bem compreendê-lo, só é inimigo de Deus aparente e superficialmente. Em sua substância, em profundidade, ele é escravo de Deus. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Só no Anti-Sistema podem reinar a imperfeição, a ignorância, a incerteza. E por isso, só aqui pode existir o livre arbítrio, pois a escolha só é possível onde ainda não se conhece o caminho melhor, o qual só pode ser um, o único perfeito. Em última análise, no Sistema como no Anti-Sistema, sendo tudo regido por Deus, a Sua perfeição exige que tudo seja determinístico. Quando o ser desmorona na matéria, ele perde a consciência e todas as demais faculdades diretivas. Então a Lei o substitui completamente em tudo e ele fica totalmente sujeito ao determinismo escravo a que também está sujeita matéria. Evolvendo, o ser desperta sua consciência, o que significa reencontrar a Lei, compreendê-la e perceber cada vez mais o prejuízo e o absurdo de revoltar-se contra ela. Isto também significa começar a colaborar, reentrando assim pouco a pouco na ordem, o que quer dizer assumir cada vez mais funções diretivas de operário da Lei e de instrumento de Deus.
     Então com a experiência da queda, acontece que, quanto mais se evolui, tanto mais a liberdade se torna liberdade de obedecer à Lei e sempre menos vontade de a ela desobedecer. De modo que a liberdade suprema das criaturas, no sistema perfeito, nós só a podemos entender como liberdade de obedecer a Deus espontaneamente, por livre adesão, vivendo perfeitamente harmonizados em Sua ordem. (P. Ubaldi - O Sistema)

    A convicção da verdade é outra coisa, não pode ser obtida através do estudo da filosofia. A convicção resulta do temperamento, da experiência e das reações daquele; é um estado pessoal ao qual se procura reduzir tudo, adaptando a ele até as verdades que se julgam absolutas, as das religiões. E quando o próprio tipo biológico está situado no plano animal, a própria verdade continua sendo animal, e não há erudição filosófica que a possa mudar. Nem sequer as religiões conseguem transformá-la, senão em pequena dose. O involuído continuará assim, mesmo que seja o mais erudito do mundo. Poderá dissertar a respeito de tudo, mas o único sistema filosófico que continuará acreditando com convicção será o do ventre e o do sexo, o de sua vantagem imediata. A verdade só pode ser atingida por amadurecimento biológico, que é o único que nos pode levar à compreensão, pois é ele que nos abre os olhos da alma. (P. Ubaldi - O Sistema)

    A civilização em última análise é apenas uma especialização zoológica atingida pela evolução no plano humano, sob a direção de uma atividade biológica nova e especial: o psiquismo. Esta qualidade aparece apenas nesta fase de amadurecimento evolutivo, ao passo que antes era imperceptível, quase invisível no processo ascensional da vida. Ela estava apenas latente, embrionária e de fato não aparecia como valor importante. Eis que, com o homem, o psiquismo assume um poder preponderante na evolução, um poder tão decisivo que tornou o homem consciente do fenômeno da evolução, até o ponto não só de compreendê-lo, como de assumir a direção dele. Aqui assistimos uma emersão decisiva do psiquismo no consciente, psiquismo que até agora dirigira a fisiologia e a morfologia, mas escondido no inconsciente, fora do domínio direto do homem, e que só agora aparece em plena evidência. No animal, o psiquismo - nele ainda inconsciente - para enfrentar o ambiente, produz, plasmando a matéria celular do organismo físico, alguns órgãos determinados, que funcionam como instrumentos. Eles permanecem ligados ao corpo, que só dispõe de certa quantidade de espaço útil. Não é fácil modificar e renovar esses instrumentos, que representam órgãos especializados, e além disso não podem ser multiplicados além das possibilidades do organismo físico. Uma vez que um órgão se tenha desenvolvido para executar determinada função, terminado o longuíssimo processo de formação pelos caminhos da adaptação e da evolução biológica, ele permanece tal qual foi construído, e não é fácil mudá- lo, mesmo que não corresponda mais às necessidades e utilidades do indivíduo. Este permanece preso aos meios que ele mesmo se criou, não pode libertar-se deles nem pode facilmente construir outros melhores. Com essa sua técnica na formação dos órgãos, o animal permanece um ser especializado, sendo difícil para ele sair de sua especialização.
    No homem a coisa se passa diversamente, porque ocorreu um fato novo: apareceu o psiquismo que pode conscientemente dirigir a construção de novos instrumentos ou órgãos externos e independentes do corpo, para serviço próprio. Esse novo meio permitiu ao homem superar os limites evolutivos que dificultam a transformação do animal, fechado em sua especialização. Chegados a certo ponto da evolução, a sabedoria que a guia para o telefinalismo preestabelecido, ao invés de trabalhar escondida no subconsciente do animal, aparece visível em novo órgão ou instrumento, que é o sistema nervoso que se cerebraliza em funções psíquicas. Entra assim a vida em novo caminho, iniciando novo método para realizar-se: abandona o sistema da construção e elaboração de órgãos especializados, muito lento e limitado, rompe os diques e cria um organismo não especializado, mas que adquiriu o poder de construir fora de si quantos órgãos especializados ou instrumentos que lhe possam ser necessários e úteis para os objetivos de sua vida. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Com as mãos, órgão não-especializado, o homem construiu para si as primeiras máquinas. Depois construiu outras máquinas para construir máquinas e assim por diante, aperfeiçoando cada vez mais a sua técnica. Dessa forma está até construindo órgãos artificiais para aperfeiçoar os que ele já possui em seu próprio corpo, ou para supri-los quando defeituosos ou ausentes. Não se exclui a possibilidade de que um dia o homem se apodere a tal ponto dos segredos da técnica da vida, que consiga construir artificialmente um organismo físico ou, se lhe convier mais, os meios com que possa realizar a sua vida de entidade espiritual no plano físico, em formas diferentes das utilizadas pela vida até aqui, com essa finalidade. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Discutiu-se se nasceu primeiro o órgão ou a função. Em princípio não existia nem um nem outro. Na primeira origem existe apenas um impulso interior para subir, em forma de desejo instintivo, no qual se revela a lei de regresso às origens. Aquele telefinalismo de que falamos é uma força ativa de atração. Surge assim o desejo. Ele exprime esse impulso interior, individualiza-o no caso particular, na forma que deve ser atingida naquele dado momento e posição da vida. A matéria orgânica é forma regida por esse impulso interior, e por isso ela lhe obedece, deixando-se plasmar por ele. Então o desejo começa a plasmar uma primeira tentativa, um esboço do órgão, com os materiais que toma do ambiente, material passivo, que obedece, em virtude da lei da vida, àquele impulso animador. Com esses materiais, aquele desejo se reveste de uma primeira forma rudimentar, que constitui a sua primeira expressão. Nasce desse modo um primeiro esboço provisório, à espera de que a tentativa se reforce, consolidando o seu tipo, se ele corresponder às condições do ambiente e às exigências da vida. Ele é a expressão do íntimo pensamento que a dirige; é o resultado de uma luta do pensamento criador com a matéria inerte, para plasmá-la a seu modo. A luta é feita por ensaios, resistências, adaptações, tentativas. Esta é a forma por que se realiza a criação no plano material, por obra do espírito. O pensamento, desde a primeira criação feita por Deus, demonstrou sempre possuir poder criador.
    Depois de formado, este primeiro esboço tenta um primeiro funcionamento experimental. Com isto ele experimenta o ambiente, adapta-se, fixa os resultados adequados, aperfeiçoa- se. Esse aperfeiçoamento do esboço leva a um aperfeiçoamento maior no funcionamento, o que também permite que o órgão se desenvolva e aperfeiçoe cada vez mais. Dessa forma, o órgão e o funcionamento, escorando- se mutuamente, guiados e sustentados pelo impulso interior da vida em direção ao telefinalismo, se vão construindo e aperfeiçoando, até que daí nasça o órgão novo completo. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Observemos outro fato, que também nos prova o poder criador do pensamento e o movimento da evolução no sentido da espiritualidade. Por um fenômeno paralelo ao que agora examinamos, segundo o qual a matéria orgânica é dirigida e plasmada pelo impulso interior, animador das formas da vida, acontece que as idéias dominantes na existência de um homem permanecem impressas em seu rosto, os seus traços físicos exprimem, dessa maneira, em síntese, a sua história vivida: dores, alegrias, lutas, vitórias, as notas fundamentais da personalidade, reforçadas ou corrigidas pelas novas experiências. Dessa maneira, um rosto pode representar uma biografia. Para aprender a lê-la, observemos o significado das várias partes do corpo humano. Pode dividir-se em três planos: 1) Parte inferior: dos pés ao ventre, que constitui a animalidade. 2) Parte média: peito e coração, que representa o sentimento. 3) Parte superior: cabeça e cérebro, que representa a alma e a personalidade.
    O rosto humano pode igualmente dividir-se em três planos correspondentes àqueles, começando de baixo. 1) O maxilar e a boca que exprimem, quando muito desenvolvidos, a animalidade voraz e egoísta, a avidez e a sensualidade bestial. 2) Os olhos que exprimem o sentimento do coração, emotividade passional, que pode tomar parte na vida inferior tanto quanto na superior, que o rosto nos revela. No primeiro caso, os olhos exprimem astúcia, egoísmo, avidez, sensualidade. No segundo caso, inteligência, generosidade, bondade, assim como sexualidade sublimada ao plano de amor espiritual. 3) A fronte, que manifesta o poder e o domínio atingidos no campo do pensamento, da bondade, do espírito. (....) Com tais critérios, qualquer pessoa poderá, ao olhar sua imagem, ler nela a própria história, destino e valor. (P. Ubaldi - O Sistema)

    O que desmoronou com a involução não foi o número das individuações ou criaturas: esse permaneceu o mesmo, igual; o que desmoronou no caos foi a sua ordem, o que se desfez foi seu estado orgânico, que caiu no estado desorgânico. (P. Ubaldi - O Sistema )

    A tarefa da evolução é justamente a de executar a reorganização do caos. Dessa forma, o princípio da individuação muda no sentido em que mudam as dimensões da unidade elementar, ou seja, do eu. Este fato, pelo qual cada um dos momentos do todo tende a fundir-se com outros, organizando-se em grupos cada vez maiores, não é um fato estéril de simples soma de unidade. Neste caso não temos 2 + 2 = 4, e sim 24 = 16. Isto no sentido em que se alcança não somente uma quantidade maior, mas ainda mais: uma qualidade superior, de valor maior. A própria física nos ensina que o valor dos fenômenos e do espaço muda em relação às suas dimensões. O que vale para uma não vale para a outra, os princípios que se aplicam ao infinitamente pequeno não valem para os do infinitamente grande, nem para os do meio, que está entre os dois. (P. Ubaldi - O Sistema)

    Na nova lei, a do grupo, os indivíduos se fundem por homogeneidade de caracteres. Eles sobrevivem não como elementos separados, mas como uma síntese resultante de sua fusão, o que transforma o tipo de sua individuação. Trata-se de existências diferentes, situadas em dois planos diversos do edifício da evolução. O segundo é mais vasto, complexo e aperfeiçoado; é portanto mais poderoso e resistente. Uma coisa é o átomo, outra coisa a matéria; uma coisa é a célula, outra um organismo; uma coisa é o homem, outra um povo ou humanidade; uma coisa é a mentalidade de um indivíduo, outra uma corrente de pensamento e de psicologia coletiva. (P. Ubaldi - O Sistema)

    A vida lança-se com o homem, em seu novo caminho da evolução psíquica e espiritual. O grande trabalho criador que hoje lhe é confiado é o desenvolvimento da consciência, em todos os sentidos, quer racional na pesquisa científica, quer inspirativo na arte, quer espiritual na fé e nas religiões, quer sentimental nas relações de amor ao próximo, quer moral numa nova ética melhor e mais inteligente, não mais filha do terror e da luta pela vida, mas uma compreensão iluminada das exigências materiais e espirituais da vida. Podemos imaginar o futuro da humanidade na forma de uma mente cada vez mais iluminada. O próprio órgão cerebral terá de aperfeiçoar-se anatomicamente. A estrutura química, mecânica e biológica do encéfalo terá de atingir um grau de complexidade e requinte que permita o funcionamento de novas zonas de consciência, ainda adormecidas hoje, ativando neurônios ainda não utilizados. (P. Ubaldi - O Sistema )

    Observando, em sentido mais vasto, vemos em cada fenômeno um princípio de ordem que o protege, o mantém e quer melhorá-lo; e há um princípio de desordem que o agride, estraga-o, quer fazê-lo retroceder à destruição. Verificamos a presença de uma lei de bem, lutando para agir contra uma lei de mal. Por isso, o progresso em todas as coisas, é dado pelo impulso de subida, contra o impulso contrário que quer a descida, ou pelo menos a paralisação. A evolução, por fim, consegue vencer, mas emergindo dessa contínua luta. Assim, apesar de tudo, o progresso avança. Apesar de estar sempre minado pelo impulso contrário, consegue, finalmente, realizar-se. Onde estão situadas as origens desses impulsos contrários? Só a teoria da queda pode dar-nos a explicação desse fato. Os dois impulsos provêm um do Sistema e outro do Anti-Sistema. A evolução representa a subida do segundo, que não quer morrer, para o primeiro, que deve nascer. E o Sistema só pode nascer matando o Anti-Sistema, o qual só pode sobreviver se deixando matar pelo Sistema. O seu terreno de luta é o domínio do ser. A evolução representa o regresso ao Sistema e o extermínio definitivo do Anti-Sistema. No plano humano, o Sistema é representado pelas leis da ética e o Anti-Sistema pelos instintos da animalidade. Assim se explica esse contraste. (P. Ubaldi - O Sistema - Cap. 16)

    A queda não se verificou ao acaso, por si mesma. A Lei, ou seja, o pensamento de Deus, previra-lhe a possibilidade; prova-o o fato de haver determinado o seu decurso e suas conseqüências, mesmo antes da sua ocorrência. Sem dúvida, devia haver na Lei, princípios que, mais tarde, ao se verificar a queda, teriam regulado a descida involutiva e, também, a posterior subida evolutiva, como no-lo demonstra o seu evidente telefinalismo. (P. Ubaldi - O Sistema - Cap. 20)

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