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"Trechos do Livro Um Destino Seguindo Cristo " de Pietro Ubaldi

Não se vence um mal combatendo-o com outro mal, um erro com outro erro. Se ao abuso não se contrapõe a honestidade, todos se situam do lado do primeiro. Não basta, para ter razão, possuir e usar a força da autoridade. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo - Cap 2).

Quem toma só em proporção do que produz dificilmente se enriquece. O trabalho produz e a esperteza enriquece. É raro que nas origens de uma grande fortuna possa existir um ato de justiça. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo - Cap2).

Patrões e servos estão proporcionados uns aos outros. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo - Cap 3).

Ora, a função de adaptar as altas coisas do espírito, rebaixando-as ao nível do involuído, vem sendo realizada pelas religiões. Este é o trabalho dos ministros de Deus, o qual é realizado aceitando uma interpretação materialista do que é espiritual, encenando espetáculos com as representações do rito, adaptando-se às massas onde estas não cedem. Poder-se-ia observar em que medida Cristo transformou o mundo, ou até que ponto o mundo transformou Cristo. É preciso, no entanto, reconhecer que não havia outro meio para chegar a essa simbiose, necessária para os fins da evolução Reduzido a essas condições, o produto espiritual é aceito no plano humano, evolutivamente degradado, mas utilizável para os fins da vida. (....) Trata-se de uma mercadoria-esperança, baseada na fé, de modo que os descrentes a deixam sobre a mesa. Mas, para quem nela crê e, portanto, a deseja, nasce a luta entre a procura e a oferta, como sucede com qualquer troca Diz o fiel ao ministro: "eu te presto obediência, se tu me deres o paraíso". Diz o ministro ao fiel: "se tu não me prestares obediência, eu te mandarei para o inferno". Deve-se pagar com a obediência o paraíso que se adquire Mas aqui há qualquer coisa mais. Nas outras trocas o adquirente não é castigado, se não as efetua. Neste caso, se ele não as realiza, é sujeito a uma pena, de maneira que não está livre para recusar. Temos, assim, um mercado forçado em economia de monopólio. A realidade é que o ministro quer a obediência a qualquer custo e, por isso, utiliza os meios de que dispõe. No entanto, o jogo é totalmente psicológico e é descoberto, na falta de crentes ou ausência de fé. Tudo isso é inevitável num mundo em que a troca não é um balanço de justiça, mas é dirigida por uma forma mental egoísta, pela qual cada um luta para extrair do próximo a maior vantagem possível. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 4)

O que é sólido não é o concreto, como se crê, mas o abstrato. O espiritual, porque se encontra em cima, subtrai-se ao vórtice do transformismo que tudo arrasta. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo – Cap 4).

Parece que cada fenômeno, quando alcança uma fase de excessivo desenvolvimento, se esgota e regressa, por força das leis da vida, à sua posição de justo equilíbrio. Parece que os fenômenos se cansam por excesso e por carência, e quando se saturam num sentido ou noutro, a vida lhes freia o movimento desordenado, para reconduzi-lo à ordem dos seus equilíbrios. (Pietro Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 4).

Quando os elementos que compõem uma sociedade não se coordenam para colaborar, não se pode falar de organismo, mas apenas de grupo, que, para continuar a existir mantendo-se unido, tem necessidade do domínio imposto por um chefe. Realmente, a primeira coisa que se procura em qualquer associação é quem a comande, impondo a sua disciplina, porque, sem este sistema forçado, o grupo se desagrega. Nos verdadeiros organismos, não nas unidades coletivas em formação, como é o caso da sociedade humana, mas nas que alcançaram o estado orgânico, não existe chefe, mas somente um centro, em direção ao qual espontaneamente se orientam em obediência todos os elementos componentes. A disciplina, que é a base necessária da ordem, é automática, e não há necessidade de ser imposta à força por um chefe. Este grau de evolução já foi alcançado pelo corpo humano. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 5)

A abundância de qualquer coisa satura e tende a eliminar a capacidade de assimilação, aguçando, ao contrário, a sensibilidade em sentido oposto. (Pietro Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 6).

A evolução conduz à conquista de novas qualidades, um setor de cada vez. É natural, portanto, que o progresso numa determinada direção anule o que foi realizada em outra. A vida não pode proceder à criação de demasiadas coisas e avançar por diversas estradas ao mesmo tempo. Assim, quando tudo se torna ciência, técnica, trabalho produção, industrialização e mercado, as qualidades espirituais tendem a atrofiar-se. Hoje o homem especializou-se na conquista daquele tipo de valores, mas, obedecendo à mesma lei, assistirá à reação representada por uma espiritualização em um plano racional e científico mais positivo e aceitável do que o fideístico atual. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo - Cap 7).

Defeitos e pecados do século XIX: 1) - O autoritarismo com o abuso do egocêntrico, pelo qual quem chegava ao comando se reservava o direito de dominar os seus semelhantes. Daí a autoridade do homem sobre a mulher dos pais sobre os filhos, do clero sobre as consciências, dos patrões sobre os empregados, dos estados sobre suas colônias etc. 2) O egoísmo da posse de minha propriedade, exclusivamente reservada para mim. 3) A desigualdade para com os outros. Nascia-se e vivia-se, contra os preceitos cristãos, em posições diversas, de favorecidos ou desfavorecidos, de soberba ou miséria, tudo isso fixado por leis civis e religiosas e transmitido por herança, com a pretensão de durar eternamente. 4) A exploração do trabalho alheio para prover as próprias necessidades. Essas culpas estão, hoje, diminuindo, quando controladas e limitadas em cada um dos quatro pontos examinados. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 7)

Em novo estilo a orientação educativa não se baseia mais numa imposição dogmática assente em temores reverenciais. Pelo contrário, é eliminado tudo quanto provoca afastamento, e favorecido tudo aquilo que signifique aproximação, de maneira a estabelecer não mais um relacionamento baseado, de um lado, no comando e, do outro, na subordinação, temor e mentira, mas, sim, na igualdade, confiança e compreensão, de modo que se possa criar um diálogo. Até agora, por causa da imaturidade geral, não só dos educadores, mas também dos educandos, não se seguia o método da compreensão, mas o da imposição como sistema educativo. No regime de luta em que se vivia, o educador, para não ser vencido, devia por força tornar-se um domador. Mas com este processo a obediência que se conseguia era cheia de desconfiança e de rancor. Então, se a personalidade do indivíduo, apesar de torcida pelo esmagamento, sobrevivia, ela ficava esperando o momento da revolta, e a sua obediência era fingida, exterior e passiva. Se, entretanto, aquela personalidade era destruída pela opressão exercida, ela aderia, simplesmente como um autômato, ficando sua obediência ainda mais inerte e passiva. O resultado era sempre uma destruição e não uma criação de valores. (P.Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 7)

Com Deus se fala sozinho, que o verdadeiro diálogo é feito somente com Ele, sem ministros intermediários, livre de qualquer opressão de consciência. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 7)

Vê-se outro sinal dos tempos: o novo ajuizamento a respeito de Teilhard de Chardin, no mesmo ambiente eclesiástico. Em certas conferências e revistas, depois de se ter cuidado dos sofrimentos morais vividos por ele no longo exílio, admite-se que tenha sido um "gênio religioso e um dos maiores cristãos deste século". Tal mudança é intitulada: "Um Ato de Justiça". O sistema é sempre o mesmo: primeiramente se martiriza e depois se santifica; a autoridade, mais forte, salva-se, e o indivíduo, isolado e fraco, é submetido. Depois ela se atualiza, e tudo fica em ordem. Acontece como se um indivíduo depois de ter praticado o mal, sem ao menos reconhecê-lo, fosse considerado inocente por ter sido mudada a lei, de modo que, segundo esta nova lei, aquilo que ele fizera não mais teria sido mal; e dessa forma inocente. Admite-se: ele já que não fora punido, agora reabilitado, não chegou a sofrer, sendo a sua dor anulada. Quantas coisas pode fazer a autoridade, porque tem a força do poder, as quais, para o indivíduo, que não a possui, são condenadas como culpa! (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 7)

Possuir princípios eternos não basta para que eles possam realizar-se enquanto não tiver chegado o momento histórico adaptado, que o permita de acordo com a maturação do grau evolutivo necessário. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo - Cap 7).

Ora a diferença entre Capitalismo e Comunismo está no considerar o homem como indivíduo, ou como coletividade. De fato a primeira posição corresponde àquilo que realmente é a natureza humana, satisfazendo melhor a sua vontade. Conceber o homem em forma orgânica, como coletividade, pode representar um conceito evolutivamente mais avançado, mas ele tem de ser imposto coativamente para poder ser praticado por um biótipo, ainda não maduro. O primeiro sistema então, por ser mais adaptado ao atual tipo de homem oferece a vantagem de seu maior rendimento. Mas o segundo sistema é uma tentativa de novas construções, e como tal percorre os tempos, antecipando o futuro, oferecendo a vantagem de iniciar a evolução; dando á sociedade uma estrutura orgânica, que representa uma fase de vida mais evoluída e perfeita. Ora, o Comunismo é filho de uma revolução e o objetivo desta é sempre o de introduzir novos fermentos à vida. Mas a conquista é fatigante, cheia de lutas e contradições, de erros e excessos, como vemos acontecer. Custa muito a escalada a novas posições biológicas. Indubitavelmente a liberdade oferece vantagens, mas oferece também um estado de disciplina que a limita quando este conduz à organicidade própria de uma civilização mais avançada. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 7)

Assim os princípios de justiça social lançados pelo Comunismo se transmitiram aos países capitalistas, aperfeiçoando o seu sistema de liberdade, com reconhecimento de muitos direitos, anteriormente ignorados. E, ao mesmo tempo, o princípio da livre iniciativa, lançado pelo Capitalismo, começa a ser reconhecido nos países comunistas com maior respeito pelo indivíduo e pela liberdade. Estes para obter maior rendimento humano, aqueles, os países capitalistas, para viverem com mais justiça. Ambos vão se avizinhando, compreendendo, assimilando. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 7)

O fenômeno econômico, segundo o qual se pesam e manejam os valores necessários à vida, reflete a dupla estrutura de nosso mundo em que encontramos presentes duas leis opostas: a do AS radicada no passado e ainda sobrevivente, e a do S em formação, como antecipação do futuro. Esta segunda lei entra em conflito com a primeira para substitui-la, ao mesmo tempo que, dentro desta última, os indivíduos igualmente combatem para se esmagarem reciprocamente. Mas a luta serve à vida na medida em que, no fundo, significa colaboração de contrários que, enquanto procuram elidir-se, se completam. Trata-se de destruir para reconstruir e, assim, renovar-se e evoluir. Desse modo, não é danosa a peleja em si mesma, e sim, aquela de tipo inferior, praticada no nível animal, quando o evoluído é condenado a fazê-la, em vez de a efetuar no plano intelectual e espiritual, onde é mais apto. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 8)

[...]não vivemos em um mundo de tipo único, mas de dois modelos de medida do valor de u'a mesma coisa. As duas apreciações coexistem e as encontramos presentes em cada ponto e caso. Tudo pode ser visto e utilizado em função do S, como do AS. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 8)

Em teoria, o Comunismo é justiça social, mas, na prática, é violência e sem esta, no atual grau de evolução, não se faz nada. Teoricamente, o Cristianismo é justiça social, mas, na prática, é hipocrisia e sem esta, no presente estágio evolutivo, o Evangelho não poderia existir. No plano humano, sem uma arma para lutar não se sobrevive. Assim, o Comunismo e Cristianismo têm cada um a sua, o primeiro a do macho, a força; o segundo a da fêmea, a dissimulação. Isto porque, em uma humanidade ainda de tipo involuído como é a nossa, o ideal (S) não pode aparecer senão em forma emborcada no AS. A solução só pode ser dada pela evolução. As suas ideologias são afins no plano teórico; deveriam, portanto, facilmente entender-se; mas, no campo prático, elas são inimigas, porque este não é terreno de princípios, mas, como foi dito, de interesses, e os princípios são ostentados somente em função destes. Trata-se de vantagens concretas, imediatas, as que o involuído melhor compreende, enquanto os ideais lhe passam quase completamente despercebidos. Dada a natureza humana, na Terra não pode acontecer outra coisa. Somente por evolução é possível transformar a forma mental e as coisas poderão mudar. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 9)

A fé tem a função de penetrar por intuição no mistério, mas não pode opor-se ao controle racional da ciência, da qual tem necessidade para adquirir a solidez positiva que lhe falta. Por seu lado, a ciência tem necessidade da fé e da intuição para alcançar as altas zonas misteriosas que escapam ao raciocínio frio e aos métodos experimentais. Assim, fé e ciência são feitas para colaborar. São matérias complementares. Malgrado cumprirem funções diversas, são constituídas para se integrarem reciprocamente, dado que são insuficientes cada uma de per si. Para as necessidades da inteligência, para a técnica produtora de utilidades práticas, existe o raciocínio da mente, mas para as do sentimento, para a formação de uma consciência moral, necessária para o comportamento social, existe o calor do coração. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 9)

Chega-se, destarte, a outro conceito de evoluído, isto é, ao tipo inteligente, por ter atravessado e experimentado a zona involuída da besta, conseguindo superá-la. Não mais o evoluído ingênuo e inocente, acabado de chegar ao plano do espírito, mole e frágil, sonhador e enamorado, convencido de que se pode alcançar o céu com vôos de fantasias, sonhos de poeta, evangelicamente terno para com o próximo, porque ainda não lhe conhece a verdadeira natureza. Pelo contrário, temos um evoluído que subiu todos os Calvários e foi crucificado em todas as cruzes das muitas velhacarias humanas. Portanto, conhece-as e não cai mais nelas, dado que lhe deixaram o sinal na pele, para sua permanente lembrança; um evoluído verdadeiro, tornado tal por ter amadurecido através de todas as provas. É assim aquele que leva consigo a experiência do mal superado, ou porque lhe foi feito pelos outros, ou porque, tendo sido feito por ele, experimentou as duras conseqüências a que conduz. Como vítima sacrificada, ou mesmo como carrasco convertido, deve conhecer todo o mal de que transborda a Terra. Os ingênuos não vão para o céu, mas ficam neste mundo para aprender. O paraíso não pode ficar cheio de meninos que brincam de ideal. Deus os manda ao nosso mundo para que vejam o de que verdadeiramente se trata e voltarem depois mais maduros, terminada a escola. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 10)

Este conceito de sexo-pecado coloca nas próprias origens da vida um sentimento torcido, porque só pelo fato de se ter nascido se é pecador. O surgimento de tal psicologia se explica pelo desejo, mesmo que inconsciente, por parte do clero de se atribuir, com a sua castidade oficial, uma posição de superioridade, base de domínio sobre a massa dos pecadores não castos; compreende-se, também, com a devida necessidade que ele tinha de justificar, e assim tornar necessária a sua presença como salvadora de almas Todos deviam ser filhos da culpa para que fosse imprescindível o trabalho de quem depois viveria à custa de redimi-las. Deste modo, o sexo tornou-se um mal tolerado porque indispensável para se ter filhos Mas ele pode constituir uma necessidade também, independentemente disso, para quem não pode, ou não considera conveniente ter filhos. Chega-se à hipocrisia de dizer que se casa para cumprir o dever de procriar. Seria interessante observar quem teria tanto zelo de cumprir esse dever só por imposição de u'a moral, se não existisse a atração sexual. Se assim fosse, teriam o mais alto sentido ético tantos inconscientes pobres que geram, sem medida, filhos destinados à fome. Por isso, os castos, porque frígidos foram vistos como virtuosos, e os hipereróticos como grandes pecadores, dignos de toda a condenação. Para tentar superações a cargo de imaturos, torceu-se e aviltou-se o amor; ao se forçar a evolução produziram-se estados sexuais patológicos aberrantes. Estes são os frutos da velha moral e da forma mental que a construiu. A nova moral resultará de um grau de consciência mais desenvolvido que traz à luz muitas contradições e danosas conseqüências. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap. 11)

Tudo isso implica outras transformações, envolvendo outros aspectos da vida. Um destes é a atual emancipação da mulher. O problema fundamental para todos, como vimos no que respeita às vocações do clero, é a situação econômica. Isto acontece também com relação à mulher. Antigamente, para uma jovem essa situação se resolvia com o matrimônio; hoje o mesmo problema se soluciona com o trabalho. Outrora, o sonho era o marido, hoje é a profissão. Eis que agora a vida para a mulher, que representa a metade do gênero humano, assenta em outras bases. Disto derivam grandes deslocações. A sua existência não fica fechada entre as paredes domésticas, reduzida a ser um apêndice do homem, seu único sustentáculo, mas se amplia na sociedade com uma função importante, como é a de quem trabalha, estando, portanto, conexa com a produção, fato que se encontra na base da vida. Então, a mulher se coloca ao nível do homem, economicamente independente, auto-suficiente, tornando-se um elemento socialmente válido, que se enxerta com o seu peso próprio na organização coletiva. Encarrega-se de novas atividades e responsabilidades, mas conquista também liberdade e, com o trabalho, a possibilidade de desenvolver-se como inteligência, o que não acontecia quando a sua função era somente a de serva ou de instrumento de prazer para o homem, ou de servir para criar os seus filhos. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 11)

O grande fenômeno a que hoje assistimos é um processo universal de socialização, que se verifica para toda a humanidade, ainda que com programas políticos opostos, processo que influencia tudo: a moral, a religião, a família, o desenvolvimento mental, a atividade produtora etc. Trata-se de novo modo de conceber a vida sob princípios diversamente orientados, conduzindo a outra moral, tema aqui tratado com a devida precisão. A velha moral era empírica e instintiva; a nova é racional e controlada. No primeiro caso, o indivíduo era movido por impulsos do subconsciente, guiado por atrações e repulsões, simpatias e antipatias; no segundo, é conduzido pelo pensamento e pela lógica que enfrentam os problemas para resolvê-los. A segunda é a moral mais evoluída de quem conhece e raciocina; a primeira é a impulsiva do primitivo irracional e inconsciente, arrastado pelos instintos. A moral sexual era até ontem desse tipo, mas já está passando do tribunal do confessor e dos mexericos da opinião pública para o juízo competente do médico, do psicólogo, do sociólogo. A unidade de medida do pecado não será estabelecida de acordo com as reações do subconsciente instintivo, mas consoante um critério social baseado no dano que esse pecado acarreta ao próximo, isto observado com lógica positiva. É assim que nasce outro tipo de pecado: o social, que vai da evasão fiscal à imprudência ao volante, baseado no respeito que se deve ao próximo, não o prejudicando, o que representa uma forma positiva de amá-lo conforme o Evangelho. Eis um Cristianismo racionalmente utilizado para chegar, como exige a hora histórica, a um estado social orgânico, feito de uma ordem sempre maior. Trata-se de um modo inteligente e calculado, mas também de ser bom. Temos uma ética cristã, civil, em vez de religiosa, que leva a uma disciplina que é perda de liberdade, conquanto também seja vantajosa, porque, se limita a minha liberdade, restringe igualmente a de outrem a quem é vedado causar-me dano. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 11)

Muitas coisas aceitas no passado tornam-se agora culpa, como, por exemplo, degradar, como bastardos filhos inocentes por terem nascido ilegítimos; viver em ociosidade por ter herdado gratuitamente patrimônios, ou por os ter adquirido através do matrimônio, de qualquer modo não ganhos pelo próprio trabalho. Será culpa por em perigo a vida dos outros conduzindo mal o automóvel, ou arruinar os negócios de outros administrando-os mal, por exemplo, estando no Governo; não pagar ao fisco; enganar legalmente o próximo no comércio; aproveitar-se da boa-fé dos honestos; propagar doenças infecciosas; desfrutar a ignorância dos inexperientes; espalhar vícios lícitos e danosos, como fumo, álcool etc.: aproveitar-se, consoante a lei, do trabalho de outrem; deixar os próprios dependentes em ociosidade e indigência, conduzindo-os ao furto. Para cada rico será culpa a pobreza de qualquer um dos seus semelhantes em relação ao qual ele não tenha cumprido o seu dever de prover, como para cada pobre será culpa não trabalhar e não fazer o possível para não se reduzir a um parasita que pretende viver à custa do rico. Será culpa capital viver do trabalho de outrem em vez do seu próprio, embora, antigamente, explorar os dependentes fosse distinção de aristocrata. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 11)

Por dois mil anos a Igreja lutou para sustentar um ideal, mesmo que tenha feito por interesses terrenos e, de vez em quando, o tenha traído. Mas não era fácil ser cristão na feroz Idade Média. Se ela quisesse sobreviver, deveria utilizar os meios que os tempos impunham, os únicos persuasivos para aquelas mentes selvagens, como o inferno, as excomunhões, a inquisição, as fogueiras, as alianças com o mais forte, as guerras contra ataques e perigos contínuos. É certo que não correspondia aos fins da vida e a missão da Igreja que ela fosse constituída de seres tão bons e santos que se fizessem matar, como Cristo, o que teria servido só para liquidá-la. De fato, a realidade da vida é bem diversa da sonhada pelo Evangelho. E até que a esta não cheguem todos por evolução, um só grupo não pode fazê-lo sozinho, separando-se do resto da humanidade. A Igreja não podia ser constituída por uma supremacia de santos, tendentes isoladamente a alcançar a sua salvação pessoal. Ela devia, ao contrário, enxertar-se na baixa vida de todos, para ajudar a ascensão dos outros. Foi assim que a Igreja se fez instrumento de progresso e realizou o seu trabalho de civilização. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 11)

Podemos obter uma concepção do fenômeno intuitivo mais completa do que o apresentando sob o aspecto mediúnico, isto é, de recepção passiva de transmissões provenientes de uma entidade espiritual. O fenômeno é mais complexo e rico de elementos. O contato é ativo e consciente e não somente de tipo conceitual. O pensamento que nos invade em estado inspirativo é profundo, está no íntimo das coisas e dos fenômenos, não em posição estática, mas em incessante dinamismo, não só dirigindo tudo, mas também potencializando o funcionamento. Assim, aquele pensamento não aparece só como conceito, mas é sentido também como vida continuamente operante, revestido de energia e de forças em ação. Isto porque ele, ao mesmo tempo, é a idéia e a sua realização fundidas numa só. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 16)

Existe, pois, o fato de que o efeito deve ser proporcionado à causa e ser da mesma natureza. Ora, matéria e espírito são de estrutura diversa, e um funcionamento cerebral não é proporcionado aos efeitos mentais que o transcendem em potência e em qualidade. Um caso semelhante é o representado pela impossibilidade de admitir que o tipo de personalidade seja o produto dos cromossomos e genes que o nascituro encontra nas células germinais dos genitores. Deveremos, ao contrário, admitir que a personalidade não derive do desenvolvimento desses elementos, causa da formação do seu tipo, que deles seria o efeito, mas que é preexistente ao nascimento e que, segundo o seu tipo já definido nas células germinais dos genitores, escolhe os elementos que mais lhe são adaptados, os que mais se lhe assemelham, para continuar a desenvolver-se consoante o próprio tipo. Isto acontece por afinidade e sintonia. Só assim a evolução pode seguir um desenvolvimento lógico, não confiado ao acaso como tentativa. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 16)

É absurdo, porque fora de toda proporção entre causa e efeito, que, com uma vida de uma centena de anos no máximo, se possam determinar as causas suficientes para justificar como conseqüência uma eternidade de prêmio ou de castigo, de alegria ou de dor. Uma só vida, conduzida em particulares e limitadas condições, não é suficiente, para completar a construção de uma personalidade, não mais sujeita à evolução por ter atingido o estado final desta. Como pode o indivíduo, possuindo somente o resultado de uma tão escassa experiência, ter alcançado uma forma em que possa ficar definitivamente fixado para toda a eternidade? (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 17)

Com a criação da alma no ato da concepção física, Deus deveria estar à disposição do homem que a exigisse, obrigado a criar somente quando e se este quisesse. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 17)

Do lado oposto ao das religiões, vemos que a ciência, depois de ter negado, na sua fase materialista, a existência do espírito, agora que se pôs seriamente a indagar no campo psicológico e parapsicológico, permanece ainda titubeante e longe de saber concluir. É certo que a ciência tinha o dever de ser positiva, portanto de ficar no terreno objetivo, experimental. Mas isto tornou inevitável a limitação do seu campo de indagação ao aspecto material do fenômeno. Ora, o fato de lhe ter escapado a parte psíquico-espiritual dele, que, realmente, existe, não reduzível ao plano físico, não a deixou obter senão uma visão unilateral e incompleta. Além disso, no próprio ato da observação, é bem estranho ter em conta somente o fato exterior, que representa a sua metade, e não também a outra, constituída pelo lado interior, isto é, da visão e interpretação daquela parte exterior obtida em função da natureza psíquica e espiritual do observador. Portanto, a atual objetividade científica é incompleta, e uma técnica experimental mais perfeita deveria abraçar ambos os momentos no ato da observação. A análise do fenômeno psíquico pode-se logicamente fazer não apenas por via extrovertida, observando uma vasta casuística, ou recolhendo de fatos acontecidos, ou procurando descobrir as leis reguladoras do seu funcionamento, mas também por via introvertida, pela qual o indivíduo pensante observa como nele está funcionando o seu pensamento enquanto está pensando. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap)

Em nosso universo tudo deriva de um seu precedente que lhe é a causa e do qual é o efeito. Também a personalidade humana é um fato positivo. Ora, se ela existe, deve ter um seu precedente do qual ela deriva e que é a causa da sua existência. Se nada se cria e nada se destrói, ela deve preexistir ao nascimento físico e continuar a existir depois da morte. Sem reencarnação a personalidade humana seria um efeito sem causa. E esse efeito não é genérico, mas bem definido nas suas qualidades individuais, que revelam uma história passada. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 17)

O método do ciclo é universal e corresponde ao sistema rotativo, segundo o qual se move o universo físico. Este é feito de elementos de tipo esférico, de retornos cíclicos, de trajetórias fechadas, de espaço curvo. Este método do ciclo consegue compensar a complementaridade e conciliar a oposição dos dois termos do dualismo, chegando, assim, a reconstruir em unidade a cisão e a pôr de acordo os dois opostos modos de existir em um dualismo unitário constituído por um circuito que, fechando-se em si mesmo, reúne as duas metades na unidade oferecida pelo próprio ciclo. Assim, a cisão se resolve em uma pulsação de ida e volta, pela qual o afastamento do ponto de partida é compensado e equilibrado por um movimento de retorno em sentido que lhe é oposto, movimento inverso que, apesar de ser a continuação do primeiro no mesmo rumo tem o poder de o anular em direção contrária. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo - Cap 17)

Patrões e servos estão proporcionados uns aos outros. (Pietro Ubaldi - Um Destino seguindo Cristo).

O Evangelho, o ideal podem ser compreendidos, seja como via de aperfeiçoamento, ou como meio de desfrutar a ingenuidade dos seus praticantes. A religião pode ser entendida e usada como virtude apropriada para ascender, mas também como pesquisa dos defeitos dos outros, para agredi-los nos pontos mais fracos. Na Terra é possível usar uma lei, uma norma, u'a moral, em sentido oposto ao verdadeiro, isto é, inverter tudo o que seria de tipo S, de maneira que, se na aparência continuasse a parecer como tal, de fato seria usado em forma de AS. (P. Ubaldi- Um Destino Seguindo Cristo)

Do lado oposto ao das religiões, vemos que a ciência, depois de ter negado, na sua fase materialista, a existência do espírito, agora que se pôs seriamente a indagar no campo psicológico e parapsicológico, permanece ainda titubeante e longe de saber concluir. É certo que a ciência tinha o dever de ser positiva, portanto de ficar no terreno objetivo, experimental. Mas isto tornou inevitável a limitação do seu campo de indagação ao aspecto material do fenômeno. Ora, o fato de lhe ter escapado a parte psíquico-espiritual dele, que, realmente, existe, não reduzível ao plano físico, não a deixou obter senão uma visão unilateral e incompleta. Além disso, no próprio ato da observação, é bem estranho ter em conta somente o fato exterior, que representa a sua metade, e não também a outra, constituída pelo lado interior, isto é, da visão e interpretação daquela parte exterior obtida em função da natureza psíquica e espiritual do observador. Portanto, a atual objetividade científica é incompleta, e uma técnica experimental mais perfeita deveria abraçar ambos os momentos no ato da observação. A análise do fenômeno psíquico pode-se logicamente fazer não apenas por via extrovertida, observando uma vasta casuística, ou recolhendo de fatos acontecidos, ou procurando descobrir as leis reguladoras do seu funcionamento, mas também por via introvertida, pela qual o indivíduo pensante observa como nele está funcionando o seu pensamento enquanto está pensando. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo)

A vida baseia-se num jogo de força ou astúcia, não sobre a justiça. Na Terra, quando alguém consegue devorar o seu inimigo, diz que Deus o ajudou. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo)

Quando, pois, a castidade não é assexualidade, ou frigidez atribuída ao indivíduo, mas se verifica por pressão imposta, então ela é obrigada a manifestar-se em formas contorcidas contra a natureza. A castidade é útil para o interesse do grupo de quem protege a conservação, mas não o é para o tipo comum do indivíduo. Ela é inútil para os frígidos, que através dela nada podem sublimar, porque nada têm para isso; é perigosa para os eróticos, que são levados a contorções e aos sucedâneos, em vez de sublimação. Isto pelo fato de que tal solução é mais fácil de alcançar e porque a vida a prefere no nível humano, uma vez que ela costuma escolher a via de menor resistência, requer menor esforço. A castidade é adequada e dá resultado somente para os maduros à superação, podendo, então, ser coisa sublime. Mas é aplicável apenas a uma exígua minoria. Assim, usada em larga escala por pessoas não maduras, elas só serve para a sobrevivência do grupo, porque para o indivíduo ou é frigidez, ou hipocrisia, quando não se resolve em desvios, o que faz dela sempre uma qualidade negativa. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo)

Defeitos e pecados do século XIX: 1) - O autoritarismo com o abuso do egocêntrico, pelo qual quem chegava ao comando se reservava o direito de dominar os seus semelhantes. Daí a autoridade do homem sobre a mulher dos pais sobre os filhos, do clero sobre as consciências, dos patrões sobre os empregados, dos estados sobre suas colônias etc. 2) O egoísmo da posse de minha propriedade, exclusivamente reservada para mim. 3) A desigualdade para com os outros. Nascia-se e vivia-se, contra os preceitos cristãos, em posições diversas, de favorecidos ou desfavorecidos, de soberba ou miséria, tudo isso fixado por leis civis e religiosas e transmitido por herança, com a pretensão de durar eternamente. 4) A exploração do trabalho alheio para prover as próprias necessidades. Essas culpas estão, hoje, diminuindo, quando controladas e limitadas em cada um dos quatro pontos examinados. (P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo)

Observemos, por exemplo, o que é na realidade a virtude da beneficência. Para poder fazê-la é necessário ter os meios isto é, ser rico. Mas, honestamente, apenas à força de trabalho, é difícil tornar-se rico. Então, não se pode fazer beneficência se não se foi primeiramente desonesto para poder enriquecer. O próprio Evangelho diz que se dê aos pobres o supérfluo. Entretanto, para dar aos pobres é necessário antes chegar a possuir. E evidente que não se pode ser generoso se, inicialmente, não se acumulou fortuna. O pobre tem mais em que pensar do que fazer beneficência. Ele está suficientemente oprimido pela sua própria luta, para poder encarregar-se à dos outros e ajudá-los. Assim, a virtude da beneficência permanece um luxo dos ricos, um embelezamento reservado para lhes servir de adorno, é qualidade vedada aos pobres, juntamente com a sua recompensa no paraíso, o que, ao contrário, os ricos esperam como benefício adquirido por direito. Para aqueles que souberam enriquecer, com a vida abastada, que a beneficência não altera, há o paraíso merecido e a gratidão que lhes é devida pelos pobres que não souberam ficar ricos. Por isso, dando pouco em comparação com aquilo que tem para gozar, o rico resgata-se do seu pecado de origem. Embora este seja necessário, deve ser perdoado, porque, sem ele e sua riqueza, não se pode fazer beneficência. Hoje este elástico jogo de compromissos foi substituído por direitos calculados do trabalhador. O pobre não confia mais no beneplácito de quem possui e já não se adapta a servir de instrumento para outros, para que eles possam ir para o paraíso. O pobre, nos países civilizados, simplesmente conquistou com as suas forças o direito de ser ajudado. A beneficência foi no passado um modo de ir vivendo com pouco incômodo. Amar o próximo é outra coisa, é superar as distâncias para se avizinharem, enquanto a beneficência é o ato de quem está no alto e, lá permanecendo, se digna olhar para baixo; é humilhação para quem está em baixo e aí continua. O pobre não sabe o que fazer com o rico que empobrece para se irmanar com ele, porque tem necessidade de bens e não de amor E, quando não existe coisa alguma para se apossar, esses heroísmos não lhe servem para nada.(P. Ubaldi - Um Destino Seguindo Cristo)

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